O pai não deve permitir que suas filhas
fiquem a sós com homens, sejam eles jovens ou velhos. Alguém dirá: “Este homem
que cuida da minha filha, é um santo”. Os santos estão no Céu, porque os santos
que estão na terra são carne e se estão próximos às ocasiões, podem
converter-se em demônios.
O Evangelho nos diz que uma boa árvore não produz mau fruto,
e que uma árvore má não pode produzir fruto bom. O que aprendemos disto, é que
um bom pai cria filhos bons. Porém, se os pais são fracos, como seus filhos
podem ser virtuosos? Porventura – disse Nosso Senhor, no mesmo Evangelho –
colhem-se uvas dos espinhos, ou figos dos abrolhos? (São Mateus 7,16). Assim é
impossível, ou de fato muito difícil, encontrar filhos virtuosos, que foram
criados por pais imorais. Pais, estejam atentos a este sermão, de grande
importância para vossa salvação eterna e de vossos filhos. Estejam atentos,
jovens, homens e mulheres que não escolheram ainda vosso estado de vida. Se
desejarem casar, aprendam as obrigações que se adquirem na observância da
formação de vossos filhos, e aprendam também que, se vós não observardes
integralmente essas obrigações, terão sobre vós e sobre vossos filhos a
condenação. Dividiremos isto em dois pontos. No primeiro, mostraremos a
importância da formação dos hábitos da virtude nos filhos; e seguidamente
mostraremos com que cuidado e diligência um pai deve trabalhar para que eles
cresçam bem.
Educar na virtude
Um pai tem duas obrigações para com seus filhos: é obrigado
a sustentá-los em suas necessidades corporais e de educá-los na virtude. Não é
necessário estendermo-nos sobre a primeira obrigação, mas existem alguns pais
que são mais cruéis que as mais ferozes bestas selvagens; aqueles que
desperdiçam toda a sua fortuna ou bens em comer, beber e prazeres, e permitem
que seus filhos morram de fome. Porém, discutiremos sobre a formação, que é a
matéria de nosso artigo.
Certamente que a futura boa ou má conduta de um filho
depende se ele tem sido criado bem ou mal. A natureza por si mesma ensina a
cada pai a participar na educação de sua descendência. Deus dá os filhos aos
pais, não para auxiliarem a família, mas para que cresçam no temor de Deus, e
sejam conduzidos no caminho da salvação eterna. “Tenhamos, disse São João
Crisóstomo, os filhos como precioso depósito; velemos por eles com grande
cuidado”. Os filhos não foram outorgados aos pais como um presente, de que se
pode dispor à vontade. Os filhos foram confiados, e por esta confiança, se se
perderem por negligência, os pais deverão prestar contas a Deus.
Um grande Padre da Igreja disse que, no dia do juízo, os
pais terão que prestar contas por todos os pecados de seus filhos (Nota: se
entende os pecados derivados de uma má ou incompleta formação, pois há casos
excepcionais de filhos muito bem educados e que, apesar disso, vivem como se
não houvessem tido uma boa formação religiosa). Assim, aquele que ensina seu
filho a viver no bem, terá uma feliz e tranquila morte. O que instrui seu
filho... quando chegar a morte não sentirá pena, porque deixa aos seus um
defensor frente a seus inimigos (Eclesiástico 30,3-6). E poderá salvar sua alma
por meio de seus filhos, isto é, pela formação virtuosa que lhes deu. “[A
mulher] se salvará mediante sua maternidade” (1 Timóteo 2,15).
Por outro lado, uma difícil e triste morte terão aqueles que
somente trabalham para incrementar suas posições ou multiplicar as honras
familiares, ou aqueles que só deixam a seus filhos a comodidade e os prazeres,
e não lhes proporcionam valores morais. São Paulo disse que esses pais são
piores que infiéis. Quem não tem cuidado com os seus, e principalmente dos da
sua casa, negou a fé, e é pior do que um infiel (1 Timóteo 5,8).
Ainda que os pais levem uma vida de piedade, contínua oração
e comunhão diária, estes virão a se condenar se, por negligência, descuidarem
da educação de seus filhos (Nota: Santo Afonso enfatiza a educação moral dos
filhos como um dever essencial. Um descuido nisto é de uma gravidade extrema
que pode comprometer nossa salvação. Uma omissão neste sentido deverá ser
confessada e reparada na maior medida possível, buscando ressarcir o dano
causado por meio dos conselhos, do exemplo e da oração pelos filhos, para que
alcancemos o perdão de Deus por tão grave dano).
Se todos os pais cumprissem com seu dever de vigiar a
formação de seus filhos, teríamos pouquíssimos crimes. Pela má educação que os
pais dão à sua descendência, fazem com que seus filhos, disse São João
Crisóstomo, caiam em grandes vícios; e os entregam assim ao verdugo. Assim
aconteceu em um povoado: um pai, que fora a causa de todas as irregularidades
de seu filho, foi justamente castigado por seus crimes com grande severidade,
mais ainda que seus filhos. Grande infortúnio é para os filhos ter pais
viciosos, incapazes de inculcar em seus filhos o temor a Deus. Aqueles que veem
seus filhos com más companhias e em brigas, e no lugar de corrigi-los e
castigá-los, lhes tomam compaixão e dizem: “Que posso fazer? São jovens, espero
que deixem isso quando amadurecerem”. Que palavras tão débeis; que educação tão
cruel! Em verdade, esperam que quando os filhos amadureçam, cheguem a ser
santos? Escutai o que disse Salomão: Mostrai ao menino o caminho que deve
seguir, e nele se manterá ainda na velhice (Provérbios 22,6). Seus ossos, disse
o santo Jó, serão preenchidos com os vícios de sua juventude, e dormirão com
ele no pó (Jó 20,11). Quando um jovem vive com maus hábitos, os levará à tumba.
As impurezas, blasfêmias e ódios, aos que se acostumou em sua juventude, o
acompanharão até a tumba, e dormirão com ele até que seus ossos sejam reduzidos
a cinzas. Corrija teu filho enquanto há esperança; senão, tu serás o
responsável por sua morte (Provérbios 19,18). É muito simples, quando são
pequenos, acostumar os filhos na virtude, mas quando chegam à madureza, se
aprenderam os hábitos do vício, é igualmente difícil corrigi-los.
Vejamos o segundo ponto, que é sobre os meios para formar os
filhos na prática da virtude. Rogo-lhes, pais de famílias, que recordeis o que
agora vos digo: da formação depende a salvação eterna de vossas próprias almas
e das almas de vossos filhos.
Corrija teu filho
São Paulo nos ensina em poucas palavras, no que consiste a
correta educação católica dos filhos. Disse-nos que esta consiste na disciplina
e correção. E vós, pais, não exaspereis a vossos filhos, mas educai-los na disciplina
e correção do Senhor (Efésios 5,4). Disciplina é o mesmo que regulação
religiosa da moral nas crianças, e implica uma obrigação de educá-las em
hábitos de virtude, por meio da palavra e do exemplo. Esta foi a maneira com a
qual Tobias educou seu pequeno filho. O pai lhe ensinou desde sua infância a
temer a Deus e a afastar-se do pecado (Tobias 1,10). O sábio disse que um filho
bem educado é o suporte e consolo de seu pai. Educa bem o teu filho, e ele
consolar-te-á e será as delícias da tua alma (Provérbios 29,17). Assim como um
filho bem formado é a alegria para a alma de seu pai, um filho ignorante é a
fonte de tristeza para o coração de seu pai; a ignorância de suas obrigações
como cristão sempre é seguida por uma má vida.
Conta-se que no ano de 1248, um sacerdote ignorante recebeu
a ordem de fazer um discurso durante um sínodo. O sacerdote estava muito
agitado por causa do mandado, e o diabo então lhe apareceu e disse-lhe: “Os chefes da treva
infernal saúdam o chefe dos paroquianos, e lhe agradecem sua negligência na
instrução das almas; já que da ignorância procedem às faltas e a condenação de
muitos”.
O que deve ser ensinado aos filhos
A mesma verdade é para os pais negligentes. Um pai tem a
obrigação de instruir seus filhos nas verdades da Fé, e particularmente nos
quatro principais mistérios.
·
Primeiro, que há um Deus, o Criador e Senhor de
todas as coisas;
·
Segundo, que este Deus é Juiz, quem, na outra
vida, recompensará os bons com a glória eterna do Paraíso, e castigará os
débeis para sempre nos tormentos do inferno;
·
Terceiro, o Mistério da Santíssima Trindade,
isto é, que em Deus há Três Pessoas, Uno em Essência e Trino em Pessoas.
·
Quarto, o Mistério da Encarnação do Divino
Verbo, o Filho de Deus, Deus verdadeiro, que se fez Homem no ventre puríssimo
da Virgem Maria e que sofreu e morreu para nossa salvação.
Poderia ser admitida a escusa de um pai ou uma mãe que diz:
“Eu mesmo não sei estes mistérios”? Pode um pecado justificar outro? Se sois
ignorantes, então tendes a obrigação de aprendê-los [os mistérios], e em
seguida ensiná-los aos vossos filhos. Ao menos mandai vossos filhos a um
catequista digno. Que coisa tão miserável é ver os pais e as mães incapazes de
instruir seus filhos e filhas na doutrina Cristã, empenhando-se em ocupações de
pouca importância, e quando eles crescem, não sabem o significado de pecado
mortal, de Inferno ou de eternidade. Não sabem sequer o Credo, o Padre Nosso,
ou a Ave Maria, os quais todo o cristão é obrigado a aprender sob pena de pecado
mortal.
Os pais religiosos não somente podem instruir seus filhos
nestas coisas, que são as mais importantes, mas também podem ensinar-lhes o que
se deve fazer em todas as manhãs. Ensinar-lhes primeiramente a agradecer a Deus
por haver preservado sua vida durante a noite, e em segundo lugar oferecer a
Deus todas as boas ações que farão e todos os sofrimentos que passarão durante
o dia; também implorar a Jesus Cristo e a Nossa Santa Mãe Maria que os preserve
de todo o pecado no decorrer do dia. Ensinar-lhes, ao anoitecer fazer um exame
de consciência e um ato de contrição. Também lhes deve ensinar atos de Fé,
Esperança e Caridade, a rezar o Rosário e a visitar o Santíssimo Sacramento.
Alguns bons pais de família cuidam em obter um livro de meditações para lê-lo e
ter oração mental comunitariamente meia hora por dia. É isto que o Espírito
Santo nos exorta a praticar: “Tens filhos? Ensina-os bem... desde a infância”
(Eclesiástico 7,25). Acostumam-lhes estes hábitos religiosos desde a infância e
quando crescerem, eles perseverarão neles. Acostumam-lhes à confissão e
comunhão semanal.
Tradução: Carlos Wolkartt
Fonte: blog.christifidei.com
Foto retirada da internet
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A Educação dos filhos
- Santo Afonso de Ligório - 1ª Parte
A Educação dos filhos
- Santo Afonso de Ligório - 2ª Parte
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