A Campanha da Fraternidade 2015 tem como lema “Eu vim para
servir” (Mc 10, 45). Às vezes o tema da Campanha da Fraternidade é enfatizado
enquanto o lema fica menos em evidência. Quero fazer agora uma brevíssima
reflexão sobre o lema da Campanha de Fraternidade deste ano.
O cartaz da Campanha retrata o papa Francisco, imitando o
gesto de Jesus com seus apóstolos, lavando os pés de um fiel na Quinta-feira
Santa de 2014. O mesmo papa disse recentemente que: “o cristão deve servir com humildade, sem
esperar nada em troca e sem fazer disso uma estrutura do poder”. Jesus “vem para servir e não ser servido”. Imitar o
exemplo de Jesus nesse sentido não é algo simples. É necessário ser pessoa
possuidora de dignidade e inteligência suficiente para servir à pessoa menos
favorecida com humildade, agindo igual para igual e com tal discrição que “sua mão
esquerda não saiba o que sua mão direita faz”.
O lava-pés é uma expressão de grande amor. E é com este amor
que todo ser humano é amado por Deus em Jesus Cristo. Com sua paixão e morte na
cruz Jesus provou que Ele veio para servir. Nós cristãos, imitando Jesus,
precisamos aprender servir uns aos outros. Não consegue servir os outros quem é egocêntrico, quem
coloca em primeiro lugar seus interesses pessoais, visando sempre
reconhecimento social em tudo que faz.
Para nós cristãos servir como Jesus Cristo fez, é necessária
muito, amor e humildade pois, “servir em vez de ser servido” é ser digno de
possuir um dos frutos do Espírito Santo, o fruto da benignidade, que nos leva a
socorrer o próximo, a ponto de nos sentirmos plenamente felizes em sermos úteis
e realizarmos a vontade do Pai.
Na primeira parte do texto-base da Campanha da Fraternidade
deste ano o livro trata em profundidade sobre o serviço da Igreja institucional
à sociedade brasileira. Enfatiza o modo pelo qual a Igreja dialoga com a
sociedade em geral. É o serviço cooperativo a favor da verdade, da justiça e da
fraternidade em vista do bem comum. Para efeituar isso, a Igreja conta com a
parceria de instituições e organizações sociais, bem como de pessoas de boa
vontade.
A Igreja no Brasil está servindo os mais necessitados,
educando crianças pobres nos orfanatos, atendendo doentes pobres nas Santas
Casas de Misericórdia, nos hospitais dirigidos por religiosos/as, nas
Conferências Vicentinas, nas clínicas para recuperar pessoas viciados em
drogas, nos colégios religiosos etc. A Igreja imitando seu Fundador está
servindo também através das pastorais, como por exemplo, a pastoral do idoso, a
pastoral da criança, carcerária, da saúde, do menor, dos pescadores, do povo de
rua, entre outras.
Há cristãos, seguindo o exemplo de Jesus, está servindo numa
variedade de situações de marginalização, exclusão e injustiça. No meio urbano encontramos cristãos
trabalhando com os moradores de rua, às mulheres marginalizadas, o solo urbano,
os Direitos Humanos e o mundo de trabalho etc. A Igreja também tem as pastorais
trabalhando com nossos irmãos e irmãs indígenas, quilombolas, ciganos,
afrodescendentes, pescadores e migrantes, tentando servir de melhor maneira
possível essas entidades.
Todo este esforço em servir os outros é por causa do
exemplo e das palavras de Jesus. Jesus nunca se apresentou como quem queria
prestígio, mas como servidor. O
lema da campanha deste ano não podia ser mais claro: “Eu vim para servir”. Na bíblia
encontramos Jesus curando e servindo pessoas com todo tipo de doenças. Porém,
talvez o texto bíblico onde Jesus expressa mais claramente o que Ele quer dos
seus discípulos/as encontramos em São Marcos 10, 42-45. Naquele texto Tiago e
João, filhos de Zebedeu, separam-se do grupo e se aproximam, só eles dois, de
Jesus. Eles disseram: “Permite que nos sentemos um à tua direita e outro à tua
esquerda, na tua glória”. Jesus disse “Não sabeis o que pedis”. Não entenderam
nada do que Jesus dizia. Jesus então lhes ensina que tais pretensões cabem aos poderosos
deste mundo, mas não têm vez no Reino de Deus. Então Jesus os chamou e disse
lhes: “Sabeis
que os que são considerados chefes das nações as dominam, e os seus grandes
fazem sentir seu poder. Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior
entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós
seja o escravo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas
para servir e dar a vida em regate por muitos”.
A ambição sempre divide e confronta os discípulos/as de
Jesus. A busca de honras e de protagonismos interesseiros rompe a comunhão da
comunidade cristã. O fato é tão grave que Jesus reúne seus discípulos para
deixar claro qual é a atitude que deve caracterizar seus seguidores. Ele disse:
“Se alguém
quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me! Pois, quem
quiser salvar sua vida a perderá; mas quem perder a sua vida por causa de mim e
do Evangelho, a salvará” (Mc 8, 35). Essa lógica de serviço coloca a
religião como instrumento de construção de uma nova sociedade.
A grandeza não se mede pelo poder que tem, pela posição
que se ocupa ou pelos títulos que se ostentam. Quem ambiciona estas coisas na
Igreja de Jesus não se torna grande, e sim mais insignificante e até ridículo. Na realidade é um estorvo na promoção do estilo
de vida desejado pelo Crucificado. Falta-lhe um traço básico para ser seguidor
de Jesus: servir. Na Igreja todos nós precisamos ser servidores. Precisamos
colocar-nos na comunidade cristã não a partir de cima, a partir da
superioridade, do poder ou do protagonismo interesseiro, mas a partir de baixo,
a partir da disponibilidade, a partir do serviço e da ajuda aos outros. Nosso
exemplo tem que ser Jesus. Ele não viveu nunca “para ser servido, mas para
servir”. Este é o melhor e mais admirável resumo do que foi sua vida.
A busca de poder e privilégios dentro seus discípulos
preocupou Jesus. Contra os hábitos instaurados na vida do homem, Jesus, com
estas palavras, provocadas por um pedido de seus discípulos, declara
decididamente o novo modo de entender os relacionamentos humanos e
particularmente, o sentido da autoridade. Nasce daí uma grande lição de Jesus. Os cristãos não
são pessoas que se realizam através do poder, como também não devem ser servis
diante dos homens. Devem ser livres em nome de Deus, e considerar o exercício
da autoridade como um serviço ao próximo.
Conforme o ensinamento de Cristo, na vida política como na vida de
família, na social como na particular, o cristão não pode ser dominado pela
ambição. Ele é alguém que, à imitação de Cristo, coloca-se à disposição do bem
dos outros, procurando servir de modo evangélico, com profundo amor, assim como
Cristo, que “veio para servir”.
Texto: Pe. Dr. Brendan
Coleman Mc Donald,
Redentorista e Assessor da
CNBB Regional Nordeste I
Fonte: Arquidiocese de
Fortaleza
Fique com Deus e
sob a proteção da Sagrada Família
Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
Crendo e ensinando o que crê e ensina a
Santa Igreja Católica
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