“Eis agora aqui o osso de meus ossos e a carne de minha
carne” (Gn 2,23a). Essa foi a
primeira declaração de amor da história!
O que gera tanta separação e frustração nos casamentos?
Por que o amor que os unia no namoro e no noivado não foi capaz de mantê-los
unidos no casamento? É preciso parar e analisar profundamente essa
questão vital para não ser surpreendido de maneira tão dura. É hora de
refletir: De
onde vêm as brigas, os desentendimentos, os rancores, que acabam levando o
casal à separação, frustrando para muitos a sua vida conjugal e familiar?
Na verdade, poucos, infelizmente, são os casais que sabem o
sentido grandioso do matrimônio que os espera.
O casamento é a construção de um projeto de vida a dois que,
para ser bem realizado, precisa contar com a determinação de ambos. É um plano
a realizar. Uma família a construir. É a fonte da vida e do amor.
Mas todo empreendimento somente tem sucesso quando queremos
a todo o custo atingi-lo, custe o que custar em termos de sacrifícios. Só
atingimos uma meta difícil quando estamos convencidos de que vale a pena
conquistá-la. Só
chegaremos ao topo de uma alta montanha, vencendo o cansaço e o desânimo da
subida, se estivermos convencidos de que vale a pena chegar lá para,
de cima, olhar a beleza das coisas. Se não houver a determinação e a motivação
necessárias, desanimaremos no meio da caminhada.
Deus criou o homem e a mulher para serem unidos no amor, e
gerar os filhos de Deus. Ao ver Eva, Adão exclamou feliz: “Eis agora aqui o osso de meus ossos e a carne
de minha carne” (Gn 2,23a). Foi a primeira declaração de amor do universo.
Adão se sentiu feliz e completo em sua carência. Então, Deus disse: “Por isso o homem
deixa o seu pai e a sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que
uma só carne” (Gn 2,24). Isso quer dizer: serão uma só realidade,
uma só vida, uma união perfeita. E Jesus fez questão de acrescentar: “Portanto, não
separe o homem o que Deus uniu” (Mt 19,6b).
Após uni-los, Deus disse ao casal: “Frutificai e
multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a” (Gn 1,28). Aqui está o sentido
mais profundo do casamento: “frutificai [crescei] e multiplicai”. Deus quer que
o casal, na união profunda do amor, cresça e se multiplique nos seus filhos; e
daí surge a família, a mais importante instituição da humanidade. A família é a
célula principal do plano de Deus para os homens e ela surge com o matrimônio.
O casamento não é para “curtir a vida a dois”,
egoisticamente; ele existe para vivermos ao lado de alguém muito especial e
querido que queremos construir. É por isso que se
diz que “amar não é querer alguém construído, mas, sim, construir alguém
querido”. O casamento é uma missão. E essa missão para ser cumprida,
exige que o casal seja unido na fé e em Deus.
Para ajudar o outro a crescer é preciso aceitá-lo como ele
é, com todas as suas qualidades e defeitos. A partir daí é possível então, com
muita paciência e carinho, ajudar o companheiro a crescer; e crescer quer dizer
“atingir a maturidade como pessoa humana” no campo psicológico, emocional,
espiritual, moral, etc.
Muitos são os obstáculos à vivência cotidiana do amor
conjugal, e que quebram a unidade do casal. Vamos analisar essas dificuldades,
lembrando que a beleza do casamento está justamente no fato de o casal
conseguir fazer vencer o amor sobre as diferenças pessoais de cada um. O amor,
quando vence, soma as divergências e gera a complementação harmoniosa.
Quais os problemas que quebram a unidade do
casal?
Mentira: Por menor que seja, ela gera a
desconfiança para com o outro a falta de confiança, é lógico, gera o ciúme; e
este, a briga. Por isso, o casal não pode permitir a mentira em seu meio. Ela
tem pernas curtas.
Moda: Todos gostam de andar na moda. Contudo,
não tem sentido, por exemplo, a esposa querer seguir a moda que seu esposo
desaprova, e vice-versa. A primeira pessoa a quem devo agradar com o meu modo
de vestir, falar, etc., é aquela com quem eu estou casado.
Comparações: É comum o péssimo hábito que
alguns casais têm de ficar se comparando com outros casais. A esposa, muitas
vezes, fica querendo que seu marido seja como o marido da vizinha, que compre
uma casa como a da vizinha, um carro como o da amiga etc. O marido, por sua
vez, gostaria que sua esposa se vestisse como a vizinha, ou fosse culta como a
esposa do seu amigo, etc.
Parentes: O sangue fala muito forte dentro de
nós. Ninguém gosta de ouvir falar mal dos seus pais e dos seus irmãos. Isso
vale também, e muito, para o casal. Jamais o marido deve falar mal dos sogros e
cunhados para a esposa, e vice-versa. Não ofenda os parentes dele porque você
estará ofendendo a ele, indiretamente.
Ressentimentos: Quando se tira a casca de uma
ferida, ela volta a sangrar e a doer. Isso é o que alguns cônjuges fazem um com
o outro. Muitas vezes, num momento de desentendimento, lembranças e ofensas
antigas são propositalmente trazidas à tona, reavivando mágoas e sofrimentos
adormecidos.
Desrespeito: Como é doloroso você presenciar
um marido ofendendo sua esposa com gritos palavrões, ofensas e até tapas!… Como
é triste a esposa ofendendo o marido!… Um dia eles juraram amor eterno aos pés
do altar! Veja bem, eu me caso com aquela pessoa que escolhi entre todas as que
conheci, para com ela construir uma vida a dois. Como é então que agora eu fico
ofendendo e desrespeitando esta pessoa?
Vou dar uma receita para que
os maridos
sejam tratados como reis por
suas esposas.
Tratem suas esposas como
rainhas!
Brigas: O casal muitas vezes se desentende
porque não combina certas coisas com clareza e objetividade. Alguém já disse
que “o que é combinado não é caro”. Muitas discussões surgem porque as coisas
não são bem definidas.
Dinheiro: O casal briga mais quando sobra
dinheiro do que quando este falta. Quando sobra dinheiro, o casal se desentende
sobre a forma de gastá-lo. Às vezes o marido quer trocar o carro, enquanto a
esposa quer trocar os móveis… e assim por diante. Se não houver maturidade do
casal, o dinheiro pode dividi-lo de muitas maneiras. Todo o dinheiro do casal,
independente de quem ganha, deve ser colocado em comum, ambos opinando e
decidindo sobre o seu uso.
Educação dos filhos: O essencial é que o casal
seja unânime na educação, isto é, ambos devem agir da mesma forma, sem se
contradizerem naquilo que dizem e fazem com os filhos. Para isso, é preciso que
o casal seja unido e dialogue muito, de modo a encontrar a forma comum de
conduzir os filhos.
Temperamento: Muito se fala em fracasso de um
casamento por “incompatibilidade de gênios”. Na maioria dos casais, os cônjuges
têm temperamentos diferentes, e é exatamente a harmonização dessa diferença,
forjada pelo amor vivido a cada dia, que faz a beleza da vida a dois. Não há
temperamento forte ou difícil que não possa ser curvado ao fogo do verdadeiro
amor.
Indelicadeza e reprovação: A falta de
delicadeza e atenção é um dos pontos tristes no relacionamento de alguns
casais. Um tratamento frio e desatencioso revela falta de amor e de união. É
fundamental que cada um incentive o outro a ser melhor e faça elogios na hora
certa. É preciso notar o esforço que um faz para agradar ao outro. Quantas
mulheres se queixam de que o marido não nota e não elogia o seu penteado
diferente, o seu vestido novo, etc.! Pior ainda que a falta de atenção é a
reprovação. Muitas vezes, um diminui e humilha o outro com críticas pesadas. O
pior de tudo é que essas reprovações, não raramente, são feitas na presença de
outras pessoas. É preciso trocar as atitudes de reprovação por palavras de
aprovação e incentivo. A desaprovação e a crítica ácida são piores do que a
agressão física. Muitos têm o hábito de notar apenas aquilo que o outro tem de
negativo, ao invés de enaltecer e agradecer a Deus pelo que o outro tem de bom.
Nunca faça uma crítica a sua esposa, sem antes relembrar-lhe uma de suas
qualidades. Lembre-se: as pessoas reagem melhor ao elogio do que à reprovação.
Duas palavras de ouro no casamento são: “Desculpe-me”; “Eu te
amo”. Se soubéssemos pedir perdão e
também perdoar, seríamos felizes. Além disso, é preciso também expressar em
palavras o amor ao outro. E como isso é difícil para muitos! Especialmente para
os maridos.
Aparência física: Uma das razões que esfriam o
relacionamento do casal é a maneira desleixada de cuidar da própria aparência.
Nenhum marido gosta de chegar em casa e encontrar a sua esposa mal-vestida,
despenteada, etc. A má aparência dificulta o relacionamento. Há mulheres que
cuidam muito bem da casa, dos filhos, mas esquecem-se de si mesmas; vivem
desarrumadas. Há o esposo que também não busca agradar à esposa através do
cuidado com sua própria apresentação.
Reclamação e autopiedade: Muitas pessoas são
exageradamente ranzinzas, reclamam de tudo e de todos, nunca estão satisfeitas
com a vida. Na verdade, o problema está dentro delas e não fora. São pessoas
cheias de autopiedade, autoestima, quer se consideram vítimas de tudo. No
casamento, isso é uma tragédia. Ninguém suporta viver com uma pessoa chata,
sempre a reclamar. Tal comportamento azeda qualquer relação e impede o
crescimento do casal.
A Palavra de Deus nos diz: “Vivei sempre contentes. Orai sem
cessar. Em todas as circunstâncias, daí graças, porque esta é a vosso respeito
a vontade de Deus em Jesus Cristo” (I Ts 5, 16-18). Viva essa
Palavra e prometa a si mesmo nunca mais ficar se lamentando da vida e do seu
cônjuge.
Prof. Felipe Aquino
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