A festa da Natividade era celebrada no
Oriente católico muito antes de ser instituída no Ocidente. Segundo uma bela
tradição, tal festa teve início quando São Maurílio a introduziu na diocese de
Angers, na França, em consequência de uma revelação, no ano 430.
Um senhor de Angers encontrava-se na
pradaria de Marillais, na noite de 8 de setembro daquele ano, quando ouviu os
anjos cantando no Céu. Perguntou-lhes qual o motivo do cântico. Responderam-lhe
que cantavam em razão de sua alegria pelo nascimento de Nossa Senhora durante a
noite daquele dia.
Em Roma, já no século VII, encontra-se o
registro da comemoração de tal festa. O Papa Sérgio tornou-a solene, mediante
uma grande procissão.
Posteriormente, Fulberto, Bispo de
Chartres, muito contribuiu para a difusão dessa data em toda a França.
Finalmente, o Papa Inocêncio IV, em 1245, durante o Concilio
de Lyon, estendeu a festividade para toda a Igreja.
Segundo os cálculos mais exatos e as tradições mais
respeitáveis, Maria nasceu em Nazaré. E sob o reinado de Herodes, quando este
ímpio Príncipe tratava de aniquilar a raça real de Davi para impossibilitar o
cumprimento das profecias que anunciavam que o Salvador sairia da família de
Jessé.
Mas por que não datam dos primeiros séculos as festas em
louvor a Maria Santíssima? Estejamos certos de que não se tratou de
um esquecimento por parte da Igreja.
Desde a sua fundação, a Igreja sempre devotou terna
devoção para com Nossa Senhora. As circunstâncias dos primeiros tempos da
história da cristandade não permitiam, entretanto, que tal devoção fosse
manifestada. Porém, as delongas que a Igreja teve de fazer até poder celebrar
publicamente tais festas é mais uma prova da sabedoria divina que a
caracteriza. Com efeito, a Igreja nasceu entre os judeus e cresceu entre os
gentios.
Enquanto seus primeiros discípulos, reunidos em pequeno
número em torno de um altar solitário, ofereciam seus corações ao único Deus,
milhões de homens se prosternavam ante milhares de altares erigidos a milhares
de divindades estranhas. Pois para os gentios tudo era deus. Exceto o próprio
Deus.
Qual era, então, naqueles tristes séculos, a principal missão
da Igreja? Atrair os povos à unidade de Deus. Esta é a razão pela
qual a Igreja não prestava à Virgem Santíssima todas as honras que Lhe eram
devidas. Pois, naquelas circunstâncias, havia o perigo de serem elas mal
compreendidas por pagãos recém-saídos da idolatria.
A Igreja secundava, agindo desse modo, os mais ardentes
desejos da própria Mãe de Deus, que queria antes de tudo que apenas seu Filho
fosse adorado em espírito e em verdade, por toda a Terra. Parecia que o próprio
Deus autorizava essa conduta, pois, enquanto coroava de glória a morte e o
sepulcro dos Mártires, deixava numa espécie de esquecimento a morte e a Assunção
de Maria, bem como as gloriosas circunstâncias de sua vida.
Constantemente fiel a si mesmo e cheio de solicitude pelo
bem de seus filhos, o Criador fizera o mesmo com Moisés, cuja morte e sepultura
quis que fossem ignoradas e sem testemunhas, temendo que os israelitas,
inclinados sempre à idolatria, fizessem dele uma falsa divindade.
Porém, com o decurso dos séculos, a Igreja vai desenvolvendo
os meios de reanimar a piedade mariana de seus filhos. Assim, se a festa da Natividade não se
apresenta, ao menos com esplendor, desde a origem do Cristianismo, encontramos
o primeiro e mais antigo documento sobre o assunto no Sacramentário de São Leão
Magno (+461), no qual figura a festa da Natividade da Virgem Santíssima com
Missa e orações próprias (Benedito XIV, vol. VIII, p. 543).
Celebrava-se ela na Igreja antes do século VII. No século IX
era uma das mais solenes na França. No Oriente, a festa da Natividade já era
celebrada com pompa desde meados do século XII.
A Esposa Mística de Cristo, elevando-se à altura da fé sobre
os sentimentos da natureza, não celebra o nascimento, mas a morte de Seus
filhos. Consideremos quão profunda é a precisão de Sua linguagem: chama natividade
ou nascimento
o momento da morte de seus santos.
Com efeito, é no dia da morte que os eleitos deixam esta
vida perecível e nascem para uma vida imortal, gloriosa. A Liturgia católica só conhece duas exceções a
essa importante regra: Nossa Senhora e São João Batista. Este tem
celebrada a data de seu nascimento porque veio ao mundo já santificado e
confirmado em graça. Assim, com muito mais razão, deve a Igreja
celebrar a Natividade de Maria, que apareceu na Terra cheia de graça e
enriquecida com todos os dons concedidos por Deus a uma criatura.
Isenta da mácula do pecado original e predestinada à
Maternidade Divina, é incontestável que Maria foi a alma mais formosa saída das
mãos do Criador, bem como, depois da Encarnação, a obra mais perfeita e mais
digna do Onipotente neste mundo. Não sem razão o Arcanjo São Gabriel a saudou
com estas palavras: "Cheia de graças sois".
ORAÇÃO: Abri, ó Deus, para
os vossos servos e servas os tesouros da vossa graça: e assim como a
maternidade de Maria foi a aurora da salvação, a festa do seu nascimento
aumente em nós a vossa paz. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na
unidade do Espírito Santo. Amém!
Fonte: Revista Catolicismo - Missal
Cotidiano
Nossa Senhora da Natividade –
Oração
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Ricardo Feitosa e
Marta Lúcia
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