Desde 1971 a Igreja Católica dedica o mês de setembro à
Bíblia. Setembro
foi escolhido pelos Bispos do Brasil como o mês da Bíblia, em razão da festa de
São Jerônimo, celebrada no dia 30 deste mês.
São
Jerônimo, que viveu entre 340 e 420, foi o secretário do Papa Dâmaso e por ele
encarregado de revisar a tradução latina da Sagrada Escritura. Essa versão
latina feita por São Jerônimo recebeu o nome de Vulgata, que, em latim,
significa popular e o seu trabalho é referência nas traduções da Bíblia até os
nossos dias.
Neste mês, em quase todas as paróquias e comunidades
eclesiais há cursos bíblicos. Incentiva-se a leitura e o estudo da Bíblia. Nas
celebrações ela ocupa lugar de especial destaque e os grupos de reflexão
trabalham no sentido de ligar mais os textos lidos com a vida. Quando ouvimos a
palavra “bíblia”, logo pensamos em Palavra de Deus. Esta é a ideia mais
difundida e popular da Bíblia. Ela é de fato a Palavra de Deus, a comunicação
de sua vontade e da sua presença libertadora para todos aqueles que a procuram
com sede e fome de vida mais plena. A Bíblia é o livro mais conhecido do mundo
inteiro. Já foi traduzido para 1785 línguas. Mesmo assim, continua sendo um
livro desconhecido. Muita gente tem em casa, mas não a abre.
Na Bíblia se encontra a história do povo de Israel e sua
lenta caminhada na descoberta de Deus que revela ao seu povo o que com ele
deseja e faz uma aliança de amor. Os profetas surgem, chamados por Deus, para
mostrar ao povo e às suas autoridades quando e como estão traindo esta aliança.
Os Salmos, orações que brotam do chão da vida, alimentam o povo em sua
caminhada para a realização do projeto de Deus.
Finalmente, “quando chegou a plenitude dos tempos, Deus
enviou o seu próprio Filho”, a Palavra de Deus se fez carne e habita no meio de
nós. Em Jesus Cristo todas as promessas de Deus se realizam e se tornam
esperanças de vida nova para todos nós. É por tudo isso que a Bíblia não deve ser um livro que
enfeita a estante, não deve ser o livro de cabeceira que faz passar as horas de
insônia, e muito menos ainda um livro que se transforma em fonte de conflitos e
divisões.
Penso que Santo Agostinho, ao dizer que Deus escreveu dois
livros, a Bíblia e a Vida, nos ajuda a superar os preconceitos e recuperar o
verdadeiro sentido da Sagrada Escritura. Ver, ler a vida do dia-a-dia, nosso
dia, o da nossa família, da nossa comunidade, da sociedade e do mundo e captar
aí os apelos de Deus para a justiça, para a fraternidade, para o amor. Nesse
exercício diário vamos entrando no mundo da Bíblia. Afinal, o que ela conta? A história de
uma aliança de amor entre Deus e seu povo. Aliança esta marcada pela
fidelidade e pelas infidelidades do povo. Aos trancos e barrancos este povo vai
aprendendo a perceber e a viver a vontade de Deus sempre presente e que se fez
carne em Jesus Cristo e que continua atuando em nossa história.
A realidade infeliz é que nós cristãos, por não nos
dedicarmos ao conhecimento da Bíblia, não sabemos a vontade do Pai. Não a
conhecendo, não podemos colocá-la na prática. Não é de estranharmos que nos
falte a alegria e a felicidade dos filhos de Deus que fez a parte dele.
Abrindo a Bíblia, estamos abrindo um dos livros mais lidos
de toda a história da humanidade. Antes de nós, milhões de pessoas procuraram
aí dentro um sentido para sua vida e o encontraram. A Bíblia foi escrita para
nós. Precisamos ler e compreender a Palavra de Deus. Ela dará a nós a certeza
de salvação; confiança e poder na oração; certeza de perdão de Deus; orientação
e paz em nossas vidas e capacidade de testemunhar Jesus Cristo. Uma palavra tem
a força e o valor daquele que a pronuncia. A palavra nossa, palavra humana,
pode errar e enganar, pois o homem é fraco e não oferece uma segurança total.
Mas a Palavra de
Deus não erra nem engana. Ela é prego seguro e firme para sustentar a vida de quem
nela se agarra e por ela se orienta. Diz o Salmo: “Tua palavra,
Senhor, é um facho a iluminar os meus passos, uma luz a guiar-me nos caminhos
da vida” (Sl 118, 105). E ainda: “Eu me agarro a ti, Senhor, e tu me seguras com
tuas mãos!”.
Por isso, “toda escritura inspirada por Deus é útil para
instruir e refutar, para corrigir e formar na justiça, a fim de que o homem de
Deus seja perfeito, qualificado para toda a espécie de boas obras” (1Tm 3,16).
Assim, “pela perseverança e pela consolação que as Escrituras nos oferecem,
podemos ter esperança” (Rm 15,4). Que esperança? A esperança de que, um dia, a
verdade e a justiça voltem a ser a marca de toda a palavra que sai da boca dos
homens! O documento de Aparecida disse: “Desconhecer a Escritura é desconhecer Jesus Cristo e
renunciar a anuncia-lo. Se queremos
ser discípulos e missionários de Jesus Cristo é indispensável o conhecimento
profundo e vivencial da Palavra de Deus. É preciso fundamentar nosso
compromisso missionário e toda a nossa vida cristã na rocha da Palavra de Deus”
(cf. doc. cit. 247).
Pe.
Dr. Brendan Coleman Mc Donald
Redentorista
e Assessor da CNBB Reg. NE1
Fonte:
Arquidiocese de Fortaleza
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Ricardo Feitosa e
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