Isabel de Andechs foi a segunda filha do Rei André II da
Hungria e de sua esposa Gertrudes de Andechs- Meran, nasceu no dia 7 de julho de
1207, no Castelo de Bratislava ou Saros-Patak. Em seu sangue fluía a
nobreza das mais poderosas casas reais da Europa. Do lado materno, era sobrinha
de Santa Edwiges e tia das santas Cunegunda (Kinga) e Margarida da Hungria e
tia-avó de Santa Isabel de Portugal e, do lado paterno, prima de Santa Inês de
Praga (da Boêmia).
O nascimento de Isabel foi maravilhosamente anunciado por
Klingsohr da Transilvânia, um trovador medieval, no distante Reino da Turíngia.
Numa noite de festa, profetizou ao então Landgrave Hermano com as seguintes
palavras: "Vejo uma estrela que se levanta da Hungria, que brilhará aqui
nesta terra e depois no mundo inteiro. Pois hoje nasceu na Hungria uma menina
que será santa. Ela será esposa de seu filho quando crescer, e será famosa no
mundo inteiro."
Encantado com as palavras proféticas que ouvira, O Landgrave
Hermann I enviou uma comitiva a Hungria e foi acertado com o Rei André II o
casamento de Isabel com seu filho mais velho, o infante Hermann. Diz a tradição
que a menina, com apenas quatro anos, despediu-se da Hungria e foi levada à
Turíngia num berço de prata, acompanhada de uma grande escolta, para ser
educada ao lado do futuro esposo. No entanto, quis o destino que o Príncipe
Hermann falecesse e em seu lugar, Isabel foi prometida em casamento ao Príncipe
Ludwig von Hesse, segundo filho do Landgrave Hermann I e da Duquesa Sofia da
Bavária. O certo é que Ludwig e Isabel viveram um amor intenso, belo e
verdadeiro desde o primeiro momento.
O Landgrave Hermann Iera soberano de um dos feudos mais
ricos do Sacro Império Romano-Germânico. O noivado foi realizado no Castelo de
Wartburg, em Eisenach, capital do Ducado da Turíngia, quando Isabel tinha
apenas 4 anos e Ludwig, 11. Anos depois, em 1217, morreu o Landgrave Hermann I
e Ludwig assumiu a coroa, quando se casou com Isabel em meio à grandes festas.
Juntos, viveram um matrimônio exemplar, abençoado com três filhos. Isso, no
entanto, fez atrair sobre Isabel os ciúmes de sua sogra, a duquesa Sofia e
demais parentes do esposo, principalmente seus cunhados, os príncipes Henrique
Raspe e Konrad e a princesa Agnes.
Como governante, Ludwig se mostrou sábio, forte, corajoso e
justo. E Isabel partilhava com o marido suas intenções de zelarem pelo bem
estar e felicidade de seu povo, baseados em fortes princípios cristãos. A
religiosidade alemã foi fortemente influenciada pela espiritualidade
franciscana, cuja ordem surgiu naquela época. Admirada dos exemplos de
Francisco e Clara de Assis, a princípio Isabel quis viver uma pobreza
voluntária total, no que foi desaconselhada pelo seu diretor espiritual,
Conrado de Marburgo, que a aconselhou a viver as virtudes do seu estado.
Sua doçura e abnegação, fortemente enlaçadas por um grande
amor a Deus e aos pobres foram causa de um intenso apostolado missionário junto
aos sofridos e por isso mesmo suas práticas de caridade foram objeto das
bênçãos divinas, que provou a virtude se sua serva com admiráveis milagres e
prodígios. Embora o povo a amasse e a considerasse uma santa, o mesmo não
nutriam por ela os parentes de seu amado esposo e demais nobres da corte. A
Duquesa Sofia, sua cunhada Inês e os cunhados Henrique e Konrad sempre a
perseguiram e tentaram indispô-la contra Ludwig, o que a jovem Duquesa sempre
perdoou e ocultou ao marido. Em várias ocasiões armaram situações para que
Ludwig por ela se antipatizasse e a rejeitasse, como era comum ocorrer com
muitos reis levianos da época. Mas o amor, o carinho e a admiração que Ludwig
sentia por Isabel era maior que tudo. Certamente o mais famoso milagre narrado
a seu respeito foi o chamado Milagre das Rosas. Dela conta-se que certa vez,
quando levava pães para os pobres nas dobras de seu manto, encontrou-se com seu
marido, que voltava da caça. Ludwig estranhou a conduta da esposa, que parecia
esconder algo, talvez insuflado pela astúcia de seu irmão Henrique ou da
própria mãe, Sofia. O diálogo entre os dois ficou famoso nos anais das lendas
de santos. "O que tu levas no avental Isabel?" Ao que a jovem
princesa respondeu, trêmula: "São rosas, meu senhor!" Espantado por
vê-la curvada ao peso de sua carga, ele abriu o manto que ela apertava contra o
corpo e nada mais achou do que belas rosas frescas e orvalhadas, embora fosse
inverno e não fosse época de flores. Note-se que da sua sobrinha, Santa Isabel
de Aragão, Rainha de Portugal, se conta uma lenda muito idêntica, o Milagre das
Rosas.
Em outra situação, avisado pelos nobres da corte de que a
esposa havia acolhido um leproso sobre o próprio leito, Ludwig correu para lá
enojado, achando que a esposa havia enlouquecido, mas os olhos de sua alma se
abriram e ele contemplou uma imagem de Cristo Crucificado.
De uma outra feita, sabendo que chegariam alguns nobres da
Hungria, enviados pelo Rei André para visitarem-nos, Ludwig mandou preparar uma
grande festa para recepcioná-los. Isabel havia passado o dia inteiro cuidando
dos pobres e não estava vestida decentemente, o que foi o bastante para receber
as críticas daqueles que a perseguiam. Ludwig, preocupado em proteger a esposa
daqueles que a perseguiam, pediu que ela se preparasse convenientemente para o
banquete segundo a sua condição de rainha, ainda mais diante dos emissários de
seu pai. Contudo, Isabel prometeu ao marido que se apresentaria em todo o
esplendor de sua humildade. E qual não foi a surpresa e o deslumbramento de
todos quando ela se apresentou na sala do trono diante do marido, da corte e
dos visitantes bela e esplendorosa num vestido de brocados, trajando um
suntuoso manto de veludo orlado de ouro e pérolas. Assim Deus vestira a sua
serva diante a solicitação do fiel Ludwig.
Ludwig apoiava e auxiliava a amada esposa em suas grandes
obras de caridade e chegava até mesmo a passar horas da noite ajoelhado ao seu
lado, segurando-lhe as mãos enquanto ela rezava. Porém, tamanha prodigalidade
para com os pobres apoiada pelo próprio Rei continuava a irritar os seus
cunhados, os príncipes Henrique e Konrad da Turíngia, embora a Duquesa Sofia
tivesse reduzido ou até cessado a perseguição a nora, em virtude dos milagres
que havia presenciado.
A caminho para as cruzadas, acompanhando o imperador
Frederico II de quem muito admirava, Ludwig faleceu de peste em Otranto, o que
causou enorme dor em Santa Isabel, que recebera a notícia da morte em outubro,
após o nascimento da terceira filha, Gertrudes. Ao saber da morte do esposo,
Isabel desesperou-se e saiu gritando enlouquecida pelo castelo, dizendo em
prantos: "O mundo morreu para mim, e com ele, tudo quanto era
alegria". Durante oito dias choraram a morte de Ludwig.
Esta dor, entretanto, foi ainda acrescida de maiores
agruras, quando seus cunhados, livres do temor que nutriam pelo irmão mais
velho, expulsaram Isabel do castelo com seus filhos, em pleno inverno, sem
dinheiro e sem mantimentos. O seu cunhado Henrique Raspe usurpou a coroa e
expulsou Isabel e as três criancinhas, acompanhadas das fiéis Jutta e Isentrude
e proibiu a quem quer que fosse ajudá-los, sob pena de castigo. O povo que
antes idolatrava a jovem duquesa agora se viu obrigado a lhe fechar as portas
por medo do novo Landgrave.
Isabel teria ficado em situação complicada se não fosse
resgatada mais tarde por sua tia Matilda, Abadessa do Convento Cisterciense de
Ktizingen. Seu tio Otto, que era Bispo de Bamberg tentou convencê-la a se casar
novamente com outro príncipe europeu, mas Isabel não quis. Foi então que tomou
a decisão mais difícil de sua vida: preferiu confiar a seus parentes a educação
dos três filhos - Hermano, Sofia e Gertrudes - e quis tomar o hábito da Ordem
Terceira de São Francisco, junto de suas duas fiéis damas de companhia Jutta e
Isentrude.
Algum tempo depois, entretanto, os cavaleiros que tinham
acompanhado o Duque da Turíngia à cruzada voltaram, trazendo seu corpo.
Corajosamente enfrentaram os Príncipes, irmãos do duque falecido e
exprobraram-lhes a crueldade praticada contra a viúva de seu próprio irmão e
contra seus sobrinhos. Os príncipes não resistiram às palavras dos cavaleiros e
pediram perdão a Santa Isabel e a restauraram em seus bens e propriedades.
Também o Papa havia forçado Henrique a devolver a coroa e a fortuna a cunhada,
sob pena de excomunhão. Orientada por Mestre Conrado, aceitou a fortuna para
poder utilizá-la em favor dos pobres. No entanto, entregou o pequeno Hermano
para ser educado pela avó no Castelo de Wartburg a fim de se tornar o futuro
Landgrave da Turíngia. Quanto a Sofia, entregou-a aos cuidados da tia para ser
educada no convento e ela mais tarde se tornou a Duquesa de Brabant. A
pequenina Gertrudes foi entregue às monjas do Mosteiro de Altemberg e ali
cresceu, tornando-se religiosa mais tarde.
Henrique ficou como regente de Ducado durante a menoridade
do sobrinho mais velho, o novo Duque soberano, porém Isabel preferiu viver na
pobreza absoluta, o que muito desejava, retirou-se primeiro para Eisenach,
depois para o Castelo de Pottenstein e, finalmente para uma modesta residência
em Marburgo.Ali fundou um hospital com parte da herança do marido e se pôs a
viver numa humilde choupana, de onde saía para atender os pobres, mendigos e
doentes que acolhia amorosamente. A capela do Hospital de Marburgo foi dedicada
em honra a São Francisco de Assis.
Mestre Conrado de Marburgo a orientou numa vida de renúncia,
impondo-lhe uma rígida e sufocante disciplina. Expulsou de perto dela as duas
fiéis amigas Jutta e Isentrude e colocou em sua companhia duas mulheres de vida
dissoluta que a agrediam e caluniavam. Mestre Conrado chegou até mesmo a
dar-lhe tapas no rosto. Depois de tantos sofrimentos que ela suportou com
admirável resignação, a jovem duquesa foi salva por seu antigo protetor e
padrinho, o Conde Bertoldo de Saros-Patak, que em companhia de vários outros
cavaleiros e nobres amigos fiéis a ela e ao seu falecido marido, obrigaram
Mestre Conrado a abrandar o rigor de sua direção espiritual, o que ele fez por
medo. Então restituiu Isentrude e Jutta à companhia da Duquesa e a alegria voltou
ao seu coração.
Nesta época de sua vida, a santidade de Isabel manifestou-se
de forma extraordinária e seu nome tornou-se famoso em todas as montanhas da
Alemanha. Dizia-se que São João Batista vinha lhe trazer pessoalmente a
comunhão e que inúmeras vezes ela foi visitada pelo próprio Jesus Cristo e pela
Virgem Maria, que a consolavam em seus sofrimentos. Uma de suas amigas depôs no
processo de canonização que surpreendeu várias vezes a santa elevada no ar a
mais de um metro do chão, enquanto contemplava o Santíssimo Sacramento absorta
em êxtase contemplativo. Perguntada certa vez sobre que fim queria dar à
herança que lhe pertencia disse: "Minha herança é Jesus Cristo!"
Dias antes de sua morte, Nossa Senhora apareceu-lhe cercada
de anjos e prometeu-lhe o céu, visão esta que causou profunda alegria ao
coração de Isabel. Faleceu docemente na noite do dia 19 de novembro de 1231, com
apenas 24 anos. Foi sepultada com grandes honras e seu túmulo foi e ainda é
palco de inúmeros milagres realizados por sua intercessão. Foi canonizada pelo
Papa Gregório IX em 1235. Também seu marido Ludwig e sua filha Gertrudes foram
elevados à honra dos altares e honrados como santos.
Dela disse o Cardeal Ratzinger, na altura arcebispo de
Munique, atual Papa Bento XVI: O que fez foi realmente viver com os pobres.
Desempenhava pessoalmente os serviços mais elementares do cuidado com os
doentes: lavava-os, ajudava-os precisamente nas suas necessidades mais básicas,
vestia-os, tecia-lhes roupas, compartilhava a sua vida e o seu destino e, nos
últimos anos, teve de sustentar-se apenas com o trabalho das suas próprias
mãos.(…)
Deus era real para ela. Aceitou-o como realidade e por isso
lhe dedicava uma parte do seu tempo, permitia que Ele e sua presença lhe
custassem alguma coisa. E como tinha descoberto realmente a Deus, e Cristo não
era para ela uma figura distante, mas o Senhor e o Irmão da sua vida, encontrou
a partir de Deus o ser humano, imagem de Deus. Essa é também a razão por que
quis e pôde levar aos homens a justiça e o amor divinos. Só quem encontra a
Deus pode também ser autenticamente humano. (Da homilia na igreja de Santa
Isabel da Hungria de Munique, em 2 de dezembro de 1981).
Padroeira da Ordem Franciscana Secular. Sua festa litúrgica
é celebrada dia 17 de Novembro.
ORAÇÃO: Ó Deus, que destes
a Santa Isabel da Hungria reconhecer e venerar o Cristo nos pobres,
concedei-nos, por sua intercessão, servir os pobres e aflitos com incansável
caridade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito
Santo. Amém!
Fonte: Wikipedia.org – Missal
Cotidiano
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