- “Padre, eu amo a Deus, que farei?”
- Se tiverdes a casa suja, varrei-a; se houver poeira, pegai
em água e molhai-a.
Haverá aqui alguns que não varrem a casa há dez meses ou
mais?
Existirá mulher tão desleixada que, tendo um marido muito
asseado, fique dez meses sem varrer a casa?
Há quanto tempo não vos confessais?
Irmãos, não vos pedi na Quaresma passada que vos acostumásseis
a confessar-vos algumas vezes no ano? Pelo menos no Natal, nos dias de Nossa
Senhora e em outras festas religiosas importantes do ano, mas penso que vos
esquecestes.
Praza a Nosso Senhor que não vos exijam contas disso no dia
do Juízo. E se disserdes então: – “Eu não sabia, por isso não me confessei”,
dir-vos-ão: – “Bem que vo-lo disseram, bem que vo-lo gritaram, muito se
afadigaram em alertar-vos; agora de nada serve puxar os cabelos porque antes não o
quisestes fazer”.
Irmãos, pecamos todos os dias. Se até hoje fostes
preguiçosos em varrer a vossa casa, pegai agora na vassoura, que é a vossa
memória. Lembrai-vos do que fizestes ofendendo a Deus e do que deixastes de
fazer a seu serviço; ide ao confessor e jogai fora todos os vossos pecados,
varrei e limpai vossa casa.
Depois de varrida, molhai o chão.
- “Mas não posso chorar, padre”.
- E se vos morre o marido ou o filho, ou se perdeis um pouco
do vosso dinheiro, não chorais?
- “Claro que choro, padre, e tanto que quase chego ao
desespero”.
Pobres de nós que, se perdemos um pouco de dinheiro, não há
quem nos possa consolar, mas se nos sobrevém um mal tão grande como perder a
Deus – pois isso acontece a quem peca -, o nosso coração é de tal forma uma
pedra que são necessários muitos pregadores, confessores e admoestadores para
que sintamos um pouco de tristeza!
Mais valorizas o real perdido do que o Deus que perdes.
Quando perdes uma quantia insignificante, não há quem consiga consolar-te, nem
frades, nem padres, nem amigos, nem parentes. E, no entanto, não te entristeces
quando perdes nada menos que o próprio Deus. Que significa isto, senão que tens
tanta terra nos canais entre o coração e os olhos que a água não pode passar?
- “Que me leva a ter o coração tão duro e a não poder
chorar?” De todos os tempos apropriados que há ao longo do ano, este é o mais
apropriado para os duros de coração.
Valorizai o tempo santo em que estamos, considerai esta
semana como a mais santa de todas do ano. É uma semana santa, e se a
aproveitardes bem e vos preparardes como já sabeis, certamente vos será tirada
a dureza do coração.
São João de Ávila, sermão
pregado no terceiro Domingo do Advento.
Livro: O Mistério do Natal,
São João de Ávila.
Fonte:
catolicostradicionais.com - aascj.org.br
Foto retirada da internet
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Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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