Tempo do Natal - 2ª Semana do Saltério
Prefácio da Epifania - Ofício solene próprio - Glória -
Creio
Cor: Branco - Ano Litúrgico “C” - São Lucas
Antífona:
Ml 3,1; 1Cr 19,12 - Eis que veio o Senhor dos senhores; em suas
mãos, o poder e a realeza.
Oração do Dia: Ó Deus, que hoje revelastes o vosso filho às nações, guiando-as
pela estrela, concedei aos vossos servos e servas, que já vos conhecem pela fé,
contemplar-vos um dia face a face no céu. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.
Primeira
Leitura: Livro do Profeta Isaías 60,1-6
Levanta-te, acende
as luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do
Senhor. Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os
povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti.
Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora. Levanta os olhos
ao redor e vê: todos se reuniram e vieram a ti; teus filhos vêm chegando de
longe com tuas filhas, carregadas nos braços. Ao vê-los, ficarás radiante, com
o coração vibrando e batendo forte, pois com eles virão às riquezas de além-mar
e mostrarão o poderio de suas nações; será uma inundação de camelos e
dromedários de Madiã e Efa a te cobrir; virão todos os de Sabá, trazendo ouro e
incenso e proclamando a glória do Senhor. - Palavra do Senhor.
Comentário: O texto se refere à cidade de
Jerusalém, embora seu nome não seja mencionado. A situação da cidade é
desanimadora. Estamos no período do pós-exílio, onde tudo está para ser feito.
Se o exílio era amargo, a saída dele e a reconstrução do país foram marcadas
por grandes dificuldades. Jerusalém está prostrada por causa de sua população
diminuta, pela falta de recursos e pela dominação estrangeira (império persa)
que não permite a organização política dos que retornaram, além de impor pesado
tributo. Teria Javé abandonado seu povo e a cidade santa? O papel do profeta
(chamado de Terceiro Isaías) aqui é suscitar ânimo e esperança. Javé continua
sendo o esposo da cidade (e, por extensão, de todo o povo). Por causa do amor
fiel que tem para com Jerusalém, esta será transformada em ponto de
convergência da caminhada das nações. Javé está nela como esposo que a orna de
esplendor, tornando-a fecunda em filhos e rica em presentes. É um marido
apaixonado que deseja todo o bem à sua amada, ele é luz e permite à cidade
participar dessa luz. O anúncio do profeta convida a cidade a levantar-se de
sua prostração e resplandecer (v. 1). Os vv. 1-3 repetem os termos luz, raiar,
esplendor. A ideia é muito clara: enquanto no mundo inteiro só há trevas, Jerusalém
é só luz e esplendor. O sol, portanto, não nasce mais no oriente, mas em
Jerusalém, porque Javé, com sua presença, é o próprio esplendor da cidade da
paz (cf. Ap 22,5). A presença de Javé na cidade põe em movimento todas as
nações, que começam a peregrinação para a cidade-luz. Tudo isso porque Javé se
levanta sobre a cidade, manifestando aí sua glória (cf. o desejo expresso em Zc
8,23). No v. 4 o profeta convida novamente a cidade-esposa a se levantar e
contemplar a romaria que a ela se dirige. Nessa procissão está a resposta de
Javé: ele dá a Jerusalém filhos e filhas, que vêm a ela carregados ao colo
pelas nações. As nações tratam com carinho os frutos do amor de Deus para com
seu povo. A cidade-esposa tornou-se mãe, cujos filhos são reconhecidos entre
todos os povos. Os vv. 5-6 mostram os demais presentes que o esposo dá à
esposa, presentes que a comovem: são as riquezas do mar, que vêm do oeste, da
Fenícia e da Grécia; são as riquezas do oriente, que vêm através das caravanas
de camelos e dromedários (Madiã, Efa, Sabá). A procissão dos que trazem
presentes vem proclamando os louvores de Javé. E os dons – incenso e ouro – têm
uma finalidade específica: servem para o culto no Templo reconstruído. É Javé
quebrando o jugo dos tributos e devolvendo ao povo os bens que sustentam a
vida. O texto oferece algumas orientações pastorais. A comunidade que, com
esforço, luta para reconstruir o projeto de Deus, precisa se levantar porque o
próprio Deus é quem sustenta a caminhada, tornando-a a esposa amada e fecunda,
luz para as demais comunidades que necessitam ver para discernir seu futuro. O
próprio Deus a torna fecunda em filhos e recursos para que seja comunidade
justa e fraterna, a ponto de atrair todos a si. Atraindo todos à paz e à
justiça, faz com que possam se encontrar definitivamente com o Deus que nela
habita. A comunidade é sacramento do encontro com Deus. Sabemos que esse ideal
não se concretizou em Jerusalém (cf. evangelho), pois ela recusou o Salvador.
De fato, o texto não cita Jerusalém, a cidade-comunidade. A perspectiva,
portanto, permanece aberta. E cada qual pode se perguntar: qual é essa
comunidade-esposa? Não será, por acaso, a cidade-comunidade à qual pertencemos?
Além disso, a Judéia continuou por séculos dependente dos impérios estrangeiros,
sustentando com suor e sangue o luxo e os caprichos dos poderosos. Quando isso
tudo irá acabar? O Novo Testamento, na pessoa de Jesus, irá propor o Reino de
Deus como alternativa contra os imperialismos que esmagam a vida do povo. (Vida
Pastoral n.252, Paulus, 2007)
Salmo:
71(72),
1-2.7-8.10-11.12-13 (R. Cf.11) As nações de toda a terra, hão de adorar-vos ó
Senhor!
Dai ao Rei vossos poderes, Senhor Deus,
vossa justiça ao descendente da realeza! Com justiça ele governe o vosso povo,
com equidade ele julgue os vossos pobres.
Nos seus dias a justiça florirá e grande
paz, até que a lua perca o brilho! De mar a mar estenderá o seu domínio, e
desde o rio até os confins de toda a terra!
Os reis de Társis e das ilhas hão de vir
e oferecer-lhe seus presentes e seus dons; e também os reis de Seba e de Sabá
hão de trazer-lhe oferendas e tributos. Os reis de toda a terra hão de
adorá-lo, e todas as nações hão de servi-lo.
Libertará o indigente que suplica, e o
pobre ao qual ninguém quer ajudar. Terá pena do indigente e do infeliz, e a
vida dos humildes salvará.
Segunda
Leitura: Carta de São Paulo aos Efésios 3,2-3a.5-6
Irmãos: Se ao menos
soubésseis da graça que Deus me concedeu para realizar o seu plano a vosso
respeito, e como, por revelação, tive conhecimento do mistério. Este mistério,
Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas mas acaba de o revelar
agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e profetas: os pagãos são
admitidos à mesma herança, são membros do corpo, são associados à mesma
promessa em Jesus Cristo, por meio do Evangelho. - Palavra do Senhor.
Comentário: A carta aos Efésios é um
texto que Paulo, ou um discípulo seu, escreveu para diversas comunidades das
regiões próximas a Éfeso. As cópias desse texto deviam ser lidas pelos grupos
cristãos das cidades vizinhas. Paulo não conheceu esses grupos. Ele só esteve
em Éfeso, centro urbano importante daquela época (cf. At 19-20), onde fundou
uma comunidade cristã. A estratégia pastoral de Paulo era atingir os grandes
centros urbanos, fundar aí comunidades, deixando-lhes a responsabilidade de
passar adiante a mensagem às comunidades da região. É a essas comunidades que
ele escreve, a partir da prisão, tentando sintetizar para elas o projeto de
Deus e o esforço que ele fez para dar continuidade a esse projeto. Paulo não
utiliza a palavra projeto de Deus. Prefere falar de mistério. Mas esse termo
nada tem a ver com algo obscuro ou incompreensível. Pelo contrário, mistério
corresponde à revelação do plano divino. Esse mistério se realizou através da
prática e da pregação de Jesus, condensadas naquilo que Paulo chama de
Evangelho. Pois bem, mediante esse Evangelho, todos são chamados à vida e à
liberdade trazidas por Jesus. É disso que Paulo se torna anunciador e
missionário, dedicando toda a vida à evangelização dos pagãos. Estes, pela
adesão a Jesus, não são mais estrangeiros, mas concidadãos dos santos (os
cristãos) e membros da família de Deus (2,19). Com esses pressupostos, podemos
entender melhor o texto que a liturgia de hoje oferece à nossa reflexão. Paulo
afirma que a consciência desses pressupostos é graça de Deus a ele concedida em
benefício dos pagãos (3,2). E a solidez dessa afirmação está no fato de que ele
a recebeu diretamente de Deus, por revelação (v. 3), ou seja, a partir da
experiência que Paulo fez de Jesus nas comunidades e a partir da contínua
assimilação do projeto de Deus. Quem toma consciência disso se torna apóstolo e
profeta, sob a ação do Espírito (v. 5) que suscita nos fiéis a contínua memória
das ações e palavras de Jesus (cf. Jo 14,26). As consequências disso são
condensadas no v. 6: os pagãos são, a partir da prática de Jesus e de Paulo,
co-herdeiros. Não mais Israel somente, nem só os judeus convertidos, mas todos
são objeto do amor e da predileção de Deus, que os salva (herança). O projeto
de Deus, portanto, é para todos. Os pagãos são membros do mesmo Corpo, ou seja,
da Igreja. A comunidade cristã não está subordinada a uma raça ou nação.
Excluir alguém seria pertencer a um corpo mutilado. Seria eliminar a Cabeça
(Cristo), pois ele veio para todos (cf. Jo 10,10). Os pagãos são, finalmente,
participantes da promessa em Cristo Jesus. A salvação é acessível, como oferta
graciosa de Jesus, a todos, sem discriminação. Tudo isso é o projeto de Deus,
condensado no Evangelho que Paulo se esforça por anunciar, apesar de estar
preso. (Vida Pastoral n.252, Paulus, 2007)
Evangelho
de Jesus Cristo segundo Mateus 2,1-12
Tendo nascido Jesus na cidade de Belém, na Judéia,
no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém,
perguntando: “Onde está o rei dos judeus, que acaba de nascer? Nós vimos a sua
estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. Ao saber disso, o rei Herodes ficou
perturbado assim como toda a cidade de Jerusalém. Reunindo todos os sumos
sacerdotes e os mestres da Lei, perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer.
Eles responderam: “Em Belém, na Judéia, pois assim foi escrito pelo profeta: E
tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades
de Judá, porque de ti sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu
povo”.
Então Herodes chamou em segredo os magos e procurou
saber deles cuidadosamente quando a estrela tinha aparecido. Depois os enviou a
Belém, dizendo: “Ide e procurai obter informações exatas sobre o menino. E,
quando o encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-lo”.
Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a
estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar
onde estava o menino. Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma alegria
muito grande. Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua mãe.
Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe
ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. Avisados em sonho para não voltarem a Herodes,
retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho. - Palavra da Salvação.
Comentários:
A
simplicidade dos magos na sua busca do Messias é desconcertante. Bastou uma
estrela, identificada como sendo dele, para que se pusessem a caminho. As
dificuldades e os empecilhos foram todos relativizados. A falta de pistas consistentes
não os amedrontou, nem o fato de terem de se dirigir a um país estrangeiro. No
entanto, revelaram-se tão sinceros quanto ingênuos, pois, dirigiram-se,
precisamente, ao terrível rei Herodes, para informar-se sobre o rei dos judeus
que acabara de nascer. Este, intuindo tratar-se de um concorrente, poupou a
vida dos magos, para garantir uma pista que o levasse ao rei recém-nascido, seu
adversário. Mas os magos, absorvidos no seu projeto de encontrar o rei dos
judeus, não perceberem a trama de Herodes. Por isso, seguiram fielmente as
informações recebidas. Não importava. A chegada ao lugar onde estava o Menino
Jesus foi o resultado de uma busca sincera. A alegria, que lhes encheu o
coração, brotava da consciência de terem seguido a voz interior. Depois de
longa caminhada, encontraram, finalmente, o rei dos judeus, pobrezinho e
desprovido de sinais exteriores de dignidade. Mesmo assim, prostraram-se para
adorá-lo. (Padre Jaldemir Vitório/Jesuíta)
O
verdadeiro fiel é alguém que faz perguntas. Exatamente por ter fé, ele
interroga. Os homens de fé atravessam a história a interrogar. Astros e
estrelas recebem seus questionamentos. O ciclo das horas e das estações, sismos
e tempestades, anúncios e profecias – tudo é motivo para questionar, perguntar,
interrogar. O homem de fé sabe que tem de haver uma resposta... Neste
Evangelho, no solene dia da Epifania - a manifestação de Deus acima dos véus
dos mistérios -, a pergunta é apresentada por magos pagãos, gente não incluída
no povo que recebera a Palavra desde o Sinai. Ouçamos Urs von Balthasar: “O
Evangelho descreve a vinda dos astrólogos pagãos que viram erguer-se a estrela
da redenção e a seguiram. Deus lhes dirigiu a palavra através de um astro
inabitual no meio de suas constelações habituais, e esta palavra os comoveu e
levou-os a prestar ouvidos, enquanto Israel, habituado à palavra de Deus,
tornou-se surdo a tais palavras de revelação: ele não quer ser perturbado no
curso habitual de suas dinastias. Tal como a Igreja, com frequência, quando um
santo a desconcerta com sua mensagem. A pergunta inocente desses estrangeiros –
“Onde está o rei que acaba de nascer?” – apresentada aos judeus ou à Igreja,
cria embaraços e até medo. A consequência junto a Herodes será um projeto
assassino prudentemente velado; mas os astrólogos, guiados pela estrela, chegam
a seu objetivo, prestam homenagem ao Menino e se esquivam, orientados pela
providência de Deus, sem serem inquietados. O acontecimento é simbólico; ele anuncia
a eleição dos pagãos. Mais de uma vez, Jesus encontrará entre eles uma fé maior
do que em Israel. Muitas vezes, são esses convertidos (raramente desejados) que
abrem para a Igreja novos e fecundos caminhos (cf. At 9,26-30).” O burguês –
inclusive o cristão acomodado – não tem o costume de fazer muitas perguntas. As
coisas são como são e... a vida segue. No máximo, pergunta-se sobre o clima de
amanhã e a cotação da Bolsa de Valores. O resto, deixar correr... E quem sou
eu? De onde venho? Para onde vou? Por que Deus me chamou à existência? Qual a
minha missão? Qual a minha contribuição para a sociedade humana? Qual a vontade
de Deus para mim? Seria bom perguntar... (Antônio
Carlos Santini / Com. Católica Nova Aliança)
SANTO DO DIA:
Epifania do Senhor - Solenidade
Fonte: CNBB - Missal
Cotidiano (Paulus)
Foto retirada da internet
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Fique com Deus e sob a
proteção da Sagrada Família
Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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