A nova Jerusalém
Deus amou uma cidade, Jerusalém. Este amor conheceu
vicissitudes, viveu uma história. A cidade de Jerusalém está intimamente ligada
à história das relações entre Deus e os homens. A ruptura destas relações,
manifesta pela construção de uma cidade oposta ou estranha a Deus (torre de
Babel), é reparada pela apresentação da cidade que Deus mesmo edificou para si.
A cidade-esposa provém da iniciativa salvadora de Deus, é um plano seu, no qual
todos são convidados a colaborar, tornando-se pedras vivas da construção, uma
vez que é ela identificada com o "corpo de Cristo”, em crescimento até a
sua idade perfeita.
A cidade-esposa, herdeira do zelo de Deus para com seu povo,
é a habitação dele e aboliu a distinção entre a tenda de Deus e as tendas dos
homens. A presença de Deus na criação, e particularmente no homem, que é sua
expressão mais completa e significativa, passa de parcial e quase extrínseca a
uma intimidade cada vez maior, a uma profundidade que se torna comunhão total,
no fim dos tempos, em Cristo e na Igreja.
A Igreja, cidade nova
A novidade desta situação está ligada à páscoa do Cristo,
êxodo definitivo, com o qual ele venceu o mar (símbolo muito frequente das
forças do mal). A Igreja, purificada pelo sofrimento, encontra uma felicidade
sem sombras na perfeita comunhão com Deus-esposo. Não devemos crer que isto
esteja planejado para depois dos tempos, num místico futuro idealizado; de
fato, a nova Jerusalém do céu coexiste com a da terra, pois a vida de ambas é a
mesma realidade: o amor, o de Deus por nós em Cristo, o fraterno e o amor por
Deus, em Cristo (evangelho). A glória de Cristo, ligada à sua obediência ao Pai
é partilhada por aqueles que obedecem ao mesmo mandamento de amar a Deus e ao
próximo até o sacrifício de si.
Esta é, pois, a cidade e a sua lei: a novidade anunciada já
está presente na comunidade cristã, amada por Deus e a ele totalmente doada.
Um mundo a construir com Deus
Céus novos e terra nova são hoje a aspiração que faz bater o
coração de todos os homens empenhados em superar a atual ordem social, tão
cheia de injustiças e explorações. "Eis que faço novas todas as coisas” é
a grande esperança cristã: um mundo novo.
Mas não é o homem com seu esforço solitário que construirá
este mundo novo. E o homem junto com Deus, em colaboração com Deus. Todos os
humanismos que julgam poder dispensar Deus estão destinados a um amargo fracasso.
O esforço prometeico do homem de querer erguer-se sozinho contra Deus,
considerado como um rival de dimensões humanas, um antagonista que limita os
horizontes do homem e de sua autonomia, esse esforço se encerra numa trágica
confissão de impotência.
Nessa construção de um mundo novo, de uma humanidade nova,
algumas teorias políticas apoiam-se unicamente na luta que com muita frequência
se mistura com ódio e agressividade violenta.
O cristão sabe, diz o documento sinodal A Justiça no Mundo,
“que existem na história fontes de desenvolvimento que não são as da luta, mas
as do amor e do direito”. O centro propulsor da história não é a luta e a
violência, mas o amor. Fora do amor, desta força original cristã e que o
cristão hoje deve defender para não ceder a outras sugestões, nada mais resta
que o ódio e a violência, com sua carga de ruínas e destruições.
Vanguardas fracassadas?
Parece que o plano de libertação evangélica, confiado aos
cristãos, neles encontra, às vezes, lentidão e obstáculos e termina por
realizar-se sem sua contribuição. Nem sempre temos sido os primeiros a nos
unirmos aos que combatem pela defesa e a libertação do homem. E agora devemos
reconhecer que muitos dos que empreenderam a luta antes de nós, embora com suas
ambiguidades, mesmo graves, estão na linha daquela libertação proclamada pelo
evangelho, sem excluir ninguém, mas incluindo todos os homens de boa vontade.
Muito frequentemente temos sido vanguardas fracassadas, distantes da onda da
história; temos muito frequentemente permitido que esta onda vivificante se
transforme em água estagnada. Deus não faz discriminações.
Esta é a base do nosso dialogo e do nosso compromisso com
todos os que trabalham pela libertação do homem.
Talvez nos tenhamos esquecido muitas vezes dos Santos que,
ao contrário, estiveram na linha de frente em toda iniciativa de libertação, e
não só nos séculos passados, mas especialmente em nossos tempos.
Primeira Leitura: At 14,21b-27 - Salmo: 144,8-9.10-11.12-13ab
(R.cf.1) - Segunda Leitura: Ap 21,1-5a - Evangelho: Jo 13,31-33a.34-35
Fonte:
Missal Dominical (Paulus)
Foto retirada da internet
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Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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