Primeira Leitura: Dn 12,1-3 - Salmo: 15,5.8.9-10.11
(R.1a) - Segunda Leitura: Hb 10,11-14.18 - Evangelho: Mc 13,24-32
As últimas realidades
"O cristianismo é todo ele escatologia; esta não é só
um apêndice"; "toda a pregação cristã, toda a existência cristã, e a
própria Igreja em seu conjunto, se caracterizam por sua orientação
escatológica" (Moltmann). De fato, com a ressurreição de Jesus, o mundo e
a história entraram em sua fase final, na plenitude dos tempos. As promessas de
Deus se realizam e os céus e terra novos já estão inaugurados. Em Cristo, Deus
já disse sua palavra definitiva; já foi lançado em nós o Espírito, semente das
realidades futuras.
O cristão constrói o futuro hoje
Compreender isto significa compreender que o cristão é o
homem do futuro. Significa não tanto que o cristão é homem que “espera o
futuro" que lhe será dado depois da morte; mas antes, que é o homem que
constrói hoje o seu futuro. Em certo sentido, depois de Cristo tudo está feito;
nada mais esperamos de substancialmente novo. No entanto, é também verdade que
tudo resta por fazer. Trata-se de fazer com que o mundo "faça a
páscoa", com que todas as realidades da criação "passem" à esfera
de Cristo, o qual no fim "recapitulará" em si todas as coisas. Esta é
a grande obra que preenche todo o tempo da Igreja; e está longe de se ter
completado. Mais do que uma função pessoal e social, deve o cristão desempenhar
na terra uma função que poderíamos chamar cósmica. Assim como o pecado de Adão
não teve consequências só para o homem, mas repercutiu também no cosmos e na
matéria que se tornou opaca (oculta Deus em lugar de manifestá-lo), pesada,
(arrasta para baixo em lugar de elevar) e rebelde ao homem (comerás com o suor
do teu rosto...”), também a redenção de Cristo atingiu todo o universo. Ele
salvou todo o homem, também o corpo destinado à ressurreição e à glória
juntamente com o Espírito. Solidária com o primeiro Adão na queda, a criação é
chamada a participar da vitória do segundo Adão.
São Paulo vê a natureza tendendo para a redenção e ouve seus
gemidos, semelhantes aos de mulher em parto (Rm 8,12-22). Todas as coisas
tendem para Cristo que "recapitulará em si a criatura" (Ef 1,9).
Salvador do homem, Cristo o é também do universo. Neste esforço, nesta tensão,
o cristão é chamado a desempenhar um papel insubstituível. É o cristão que, com
seu trabalho, com o sacrifício e a oração, "humanizará" este mundo e
preparará aquela transformação do universo nos céus novos e na "nova
terra" que inaugurará o definitivo reino de Deus. Numa palavra, "o
que a alma é no corpo devem ser os cristãos no mundo"
O cristão não caminha só
O cristão é peregrino nesta terra. Não é cidadão; é exilado
em marcha para a verdadeira Pátria. Considera a terra não como habitação
permanente, mas como a etapa de uma viagem. Por isto, não constrói aqui casa de
pedra sólida, mas apenas uma tenda, como o viandante que faz uma pausa no
deserto.
Uma interpretação unilateral e injusta das realidades
humanas (favorecida, aliás, por certa pregação também unilateral e míope) fez
com que muitos homens de nosso tempo encarassem com desconfiança a religião
cristã, como se fosse inimiga do mundo, da vida, do progresso, do esforço
humano; uma religião de evasão, de descomprometimento, de renúncia passiva e
covarde; o ópio que entorpece o homem e dele retira todo interesse pela cidade
terrestre, seduzindo-o com a promessa de um além feliz e ilusório.
Mas é muito diferente a missão do cristão no mundo: "O
cristão não se caracteriza pela fuga; é, ao contrário, alguém comprometido como
pessoa no incremento, no bom êxito, na salvação do mundo. Sabe que o universo
inteiro tem um só principio de consistência, de movimento, de fim: Cristo;
porque por meio dele todas as coisas foram feitas e nele todas subsistem (Cl
1,16-18). Cristo é, deste modo aquele que congrega, trabalhando no Intimo das
almas e das coisas para tudo santificar, tudo unir, tudo consagrar para a
glória de Deus. O cristão se engaja voluntariamente neste gigantesco
empreendimento, no seu lugar, no seu tempo, com seus recursos. Não trabalha
sozinho: colabora... Trabalha com coragem, porque a luta é dura; com fé, porque
a tarefa é misteriosa e sem proporção com as forças humanas; trabalha para
fazer crescer o universo e despontar a nova criação através da luta caótica e
dolorosa, cheia de esperança e de preocupações, luta que não é, porém, a de uma
agonia e sim a de um parto" (J.
Mouroux).
Fonte: Missal Dominical
(Paulus)
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