Libertação: dom e
compromisso - 1º Domingo da Quaresma “C” Lucas
Certos momentos na história de um povo constituem a sua epopeia;
são os acontecimentos da "libertação", do seu nascimento como povo
quando tomou consciência dos laços que o unem e do destino a que é chamado.
O povo de Israel viveu essa experiência na história e a
reviveu na memória poética e ritual (1ª leitura), encontrando nos
acontecimentos do Êxodo o ponto de referência para a sua consciência de ser o
povo escolhido em vista de uma missão. Sentiu sua libertação como uma obra
prodigiosa de Deus e não como fruto de iniciativa humana: consequentemente, toda
a sua religião se baseia nessa libertação e no seu desenrolar-se dentro de um
desígnio de salvação.
Para os cristãos, o acontecimento é a Páscoa de Jesus, que
começa a fazer parte da história de todo homem, uma vez que ele aceita
deixar-se libertar e entrar no povo dos remidos. As comunidades que se reúnem
em nome (2ª leitura) de Jesus professam a "palavra da fé" nele,
ressuscitado pelo poder do Pai, como os israelitas celebravam a páscoa
reconhecendo os prodígios de Deus para com eles.
Superando toda tentação de satanás (evangelho) com a força
do seu amor à palavra de Deus, Cristo mostra que a libertação é, antes de tudo,
interior; o homem deve superar o egoísmo, a busca ansiosa dos bens materiais, a
sede de posse e de domínio sobre os outros, a ilusão do sucesso imediato, para
possuir a si mesmo e atingir assim a plena liberdade daquele que se entrega ao
seu libertador. A comunidade dos remidos, a Igreja, por sua vez, luta pela
libertação da humanidade das forças do mal: miséria, ignorância, ódio e
violência, hedonismo e febre do consumo, egoísmo e falta de amor. Cumprindo
esta tarefa no espírito e com a força de Cristo, a Igreja prepara para o seu
Senhor um povo aberto ao anúncio do evangelho e ao caminho para a perfeita
liberdade.
Quaresma, preparação para a Páscoa
"Entre todos os dias do ano, que a devoção cristã honra
de vários modos, não há nenhum que supere a festa de Páscoa, porque esta toma
sagradas todas as outras solenidades. Ora, se considerarmos o que o universo
recebeu da cruz do Senhor, reconheceremos que, para celebrar o dia de Páscoa, é
justo preparar-nos com um jejum de quarenta dias, para podermos participar dignamente
dos divinos mistérios. Não só os bispos, sacerdotes e diáconos devem
purificar-se de suas faltas, mas todo o corpo da Igreja e todos os fiéis;
porque o templo de Deus, que tem por base o seu próprio fundador, deve ser belo
em todas as suas pedras e luminoso em cada uma de suas partes..." (São
Leão Magno).
Quaresma, tempo de ascese
"A ascese cristã nunca foi fim em si mesma; é apenas um
meio, um método a serviço da vida, e como tal procurará adaptar-se às novas
necessidades. Outrora, a ascese dos Padres do deserto impunha jejuns e
privações intensas e extenuantes; hoje a luta é outra. O homem não tem
necessidade de sofrimento suplementar; cilício, cadeias de ferro, flagelações, correriam
o risco de extenuá-lo inutilmente. A mortificação da nossa época consistirá na
libertação da necessidade de entorpecentes, pressa, ruídos, estimulantes,
drogas, álcool sob todas as formas. A ascese consistirá acima de tudo no
repouso imposto a si mesmo, na disciplina da tranquilidade e do silêncio, onde
o homem encontra a possibilidade de concentrar-se para a oração e a
contemplação, mesmo em meio a todos os ruídos do mundo, no metrô, entre a
multidão, nos cruzamentos de uma cidade. Consistirá principalmente na
capacidade de compreender a presença dos outros, dos amigos, em cada encontro.
O jejum, ao contrário da maceração imposta, será a renúncia alegre do
supérfluo, a sua repartição com os pobres, um equilíbrio espontâneo, tranquilo"
(Paulo Evdokimow).
Quaresma, tempo de fraternidade
"Mas, direis, que divisão vês entre nós? Aqui, nenhuma,
mas quando termina a nossa assembleia, um critica o outro; esse injuria
publicamente o irmão; aquele se enche de inveja, de avareza ou de cobiça;
aquele outro se entrega à violência; outro ainda à sensualidade, à impostura, à
fraude. Se nossas almas pudessem ser postas a nu, veríeis então a exatidão de
tudo isso... Desconfiando uns dos outros, nos tememos mutuamente, falamos ao
ouvido do vizinho e se vemos aproximar-se um terceiro, calamo-nos e mudamos de
assunto... Respeitai, respeitai esta mesa da qual todos nós comungamos;
respeitai o Cristo imolado por nós, respeitai o sacrifício que é oferecido"
(São João Crisóstomo).
Primeira Leitura: Dt 26,4-10 - Salmo: 90,1-2.10-11.12-13.14-15
(R. cf.15b) - Segunda Leitura: Rm 10,8-13 - Evangelho: Lc 4,1-13
Fonte:
Missal Dominical (Paulus)
Foto retirada da internet
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Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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