Interpretando teologicamente a Ascensão de Jesus, recomendam
os anjos que não se fique a olhar para o céu, mas que se espere e prepare a
volta gloriosa do Senhor. Esta é, até o fim dos tempos, a missão da Igreja, em
tensão entre o visível e o invisível, entre a realidade presente e a futura
cidade para a qual caminhamos.
O homem à direita de Deus
A fórmula do nosso Creio: "Ressuscitou, subiu aos céus,
está sentado à direita do Pai", exprime a fé pessoal da Igreja no destino
de Jesus de Nazaré. Este homem, com o qual os apóstolos "comeram e
beberam" durante sua existência terrena, "tornou-se Senhor"
depois de sua morte, porque o Pai o associou definitivamente à sua vida, ao seu
poder sobre os homens e sobre o mundo.
Pensando nesta realidade, podem-se compreender as expressões
de entusiasmo dos antigos cristãos: "A ascensão do Cristo é a nossa
ascensão; já que o Corpo é convidado a elevar-se até a glória em que o precedeu
a cabeça, vamos cantar nossa alegria, expandir em ação de graças todo o
nosso júbilo. Hoje,
não apenas conquistamos o
paraíso, mas, no Cristo, penetramos nos mais altos céus" (S. Leão Magno).
O céu é Alguém
Afirmar que a humanidade, na pessoa do Cristo, já esta no
céu, significa contestar as imagens espontâneas de um céu "espacial"
(lá em cima, para além das estrelas) e a de uma felicidade eterna que começaria
repentinamente, depois desta vida no tempo. Para Jesus, o céu é a participação
plena na vida de Deus, de um homem verdadeiro, possuindo a mesma matéria e a
mesma história de todos nós; uma relação nova entre o Criador e a criatura numa
total transparência, livre dos limites e das dificuldades da condição terrena.
Para nós será assim um dia (excetuando o caráter único da relação entre o Pai e
o Filho), quando se manifestar abertamente aquilo que já somos; quando, pelo
conhecimento e o amor, o corpo não for mais obstáculo, mas perfeito meio de
comunicação.
Um céu assim não é simplesmente a "recompensa" de
uma vida justa e boa, porque "os sofrimentos do momento presente não são
comparáveis com a glória futura que será revelada em nós" (Rm 8,18). Nem é
tampouco um narcótico para pessoas passivas e resignadas, um álibi para o
compromisso de trabalhar neste mundo pela realização (mesmo que imperfeita)
daqueles valores de liberdade, justiça, paz, fraternidade, comunhão, vida,
amor, alegria, que constituem a bem-aventurança do homem completo segundo o
plano de Deus. Uma comunidade dos que creem e caminham nesta direção - isto é,
aberta ao mundo, a serviço de todos - torna-se testemunha da nova humanidade
realizada em Cristo Jesus.
Realidade terrestre e engajamento dos
que creem
A reflexão conciliar sobre a relação Igreja-mundo
expressou-se na Constituição Gaudium et Spes com alguns textos fundamentais,
que é bom reler: Reação a uma apresentação alienante da religião: "Entre
as formas do ateísmo hodierno não deve ser esquecida aquela que espera a
libertação do homem principalmente da sua libertação econômica e social.
Sustenta que a religião, por sua natureza, impede esta libertação, à medida
que, estimulando a esperança do homem numa quimérica vida futura, o afastaria
da construção da cidade terrestre".
Um novo equilíbrio a ser encontrado: "Somos advertidos,
com efeito de que não adianta ao homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder
a si mesmo (cf Lc 9,25). Contudo, a esperança de uma nova terra, longe de
atenuar, antes deve estimular a solicitude pelo aperfeiçoamento desta terra.
Nela cresce o Corpo da nova família humana que já pode apresentar algum esboço
do novo século. Por isso, ainda que o progresso terreno deva ser cuidadosamente
distinguido do aumento do Reino de Cristo, contudo é de grande interesse para o
Reino de Deus, na medida que pode contribuir para Organizar a sociedade humana”.
Primeira Leitura: At 1,1-11 - Salmo: 46(47),2-3.6-7.8-9(R.6)
- Segunda Leitura: Ef 1,17-23 - Evangelho: Lc 24,46-53
Fonte:
Missal Dominical (Paulus)
Foto retirada da internet
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Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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