Cristo vai ao encontro da morte
com liberdade de filho
A oferta de sacrifícios a Deus parece constituir, em todos
os povos, a expressão mais significativa do senso religioso do homem.
Despojando-se de tudo o que lhe pertence por conquista ou pelo trabalho, o
homem reconhece que tudo pertence a Deus e lho restitui em agradecimento. E
quando uma parte do que foi sacrificado é comida pelos ofertantes, então se
estabelece uma comunhão simbólica entre Deus e os comensais, uma participação
da mesma vida.
Na Bíblia, as tradições sacerdotais nos dão a conhecer uma
legislação complexa, que poderia facilmente assumir valor autônomo e, portanto,
formalista, esquecendo o significado da ação cultual em relação à salvação
integral do homem. Os profetas lembram frequentemente que Deus só aceita as
ofertas e sacrifícios se são acompanhados de uma atitude interior de humildade,
de oferta espiritual de si mesmo, de reconhecimento da própria e radical
pobreza e da necessidade de uma libertação que nós sozinhos não podemos obter,
mas podemos invocar e esperar de Deus.
O servo de Javé
A pobreza é, pois, o sacrifício espiritual, isto é, a
realidade profunda de toda oferta e imolação de animais e de coisas em honra de
Deus. Esta é a atitude dos "pobres de Javé", e especialmente do
"Servo de Javé"; este, tanto no sentido individual como no
corporativo. Enviado para salvar seu povo (a humanidade), é obrigado a suportar
perseguições e ultrajes; aceita-os, entretanto, com paciência e mansidão,
sabendo que Deus o salvará (1ª leitura e salmo responsorial). Cumpre sua missão
oferecendo-se a si mesmo como vítima inocente, para expiar os pecados do povo.
Por sua obediência e amor, Deus o exaltará e glorificará; e, com os irmãos
salvos, ele louvará o Senhor num sacrifício (banquete) de ação de graças (salmo
responsorial) aberto a todos.
Jesus escolhe uma pobreza
radical
Na encarnação, Jesus fez sua a pobreza radical do homem
perante Deus (2ª leitura). Coerente com esta escolha, apoiou-se na palavra do
Pai, que nas Escrituras e nos acontecimentos lhe indica o caminho para cumprir
sua missão; não se subtraiu à condição do homem pecador, ao sofrimento que
provém do egoísmo, nem aos limites da natureza humana, entre os quais, antes de
tudo, a morte. Um homem como todos, um pobre em poder de todos; assim o mostra
o sucinto e objetivo relato dos evangelistas (evangelho). Vemo-lo como uma
vitima da intolerância e da injustiça, um amotinador ou, quando muito, um
sacrificado pelos seus por um falaz cálculo político.
Mas isto não bastaria para dele fazer um salvador. O que
resgata a sua morte, o que a transfigura - para ele e para nós - é o imenso
peso de amor com que faz dom da vida, para libertar-nos da violência e do ódio,
do fanatismo e do medo, do orgulho e da autossuficiência; para tornar-nos -
como ele - disponíveis a Deus e aos outros, capazes de amar e perdoar, de ter
confiança e reconstruir, de crer no homem ultrapassando as aparências e as
deformações.
A Igreja esta com Jesus
crucificado
Só assim a Igreja oferece hoje o sacrifício espiritual
agradável ao Pai; quando, reconhecendo-se pecadora e sempre necessitada de
salvação, apresenta não os próprios méritos e sucessos, mas a lembrança viva da
sua Cabeça crucificada, do Filho bem-amado, de cuja morte e ressurreição recebe
luz e força para ser fiel a sua missão. Aceitando com alegria o sofrimento que
completa a paixão de seu Senhor e Mestre, a Igreja pode oferecer o sacrifício
eucarístico, como voz dos pobres, dos humilhados, dos desafortunados e dos
oprimidos, anunciando a esperança da libertação. E pode fazê-lo com tanto mais
verdade, quanto mais houver escolhido não os caminhos do poder, do sucesso e do
bem-estar, mas o da coragem para repelir a injustiça e compartilhar plenamente
da sorte dos humildes.
Mas, sejamos objetivos, imparciais e concretos; isto nos
toca pessoalmente; a Igreja somos também nós. Enquanto temos facilidade em ver
as culpas ou as fraquezas dos outros, não estamos nós corrompidos pelos mesmos
males? Pensamos talvez que acusando os outros nos desculpamos a nós mesmos?
Nesse caso, são Paulo nos diria que somos "indesculpáveis" (Rrn 2,1).
·
Primeira Leitura: Livro
do Profeta Isaías 50,4-7
·
Salmo: 21(22),8-9.17-18a. 19-20.23-24
(R.2a)
·
Segunda Leitura: Carta
de São Paulo aos Filipenses 2,6-11
·
Evangelho: de
Jesus Cristo segundo Mateus 26,14-27,66
Fonte:
Missal Dominical (Paulus)
Foto retirada da internet
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Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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