Ouve, Jó, minhas palavras e escuta tudo o que digo. A ciência
dos arrogantes tem isto de próprio, que eles não sabem comunicar com humildade
o que ensinam e não conseguem apresentar com simplicidade as coisas boas que
sabem. Vê-se bem, pelo modo como ensinam, que se colocam, por assim dizer, em
lugar muito elevado e olham de cima para os discípulos, postos embaixo, à distância,
e não se dignam examinar juntos a questão mas apenas se impor.
Com razão disse deles o Senhor pelo Profeta: Vós os
governáveis com severidade e tirania. Governam, na verdade, com severidade e tirania
os que não se apressam em corrigir seus súditos, expondo-lhes serenamente as
razões, mas em dobrá-los com aspereza e predomínio.
Bem ao contrário, a verdadeira ciência foge pelo pensamento,
com tanto maior ímpeto desse vício da soberba, quanto com maior ardor persegue
com as setas de suas palavras o próprio mestre da soberba. Cuida de não apregoar
por suas atitudes o vício que procura extirpar do coração dos ouvintes,
mediante as palavras sagradas. Esforça-se por mostrar a humildade, que é a
mestra e a mãe de todas as virtudes, tanto com as palavras quanto com a vida.
Deste modo procura transmiti-la aos discípulos da verdade, mais por seu modo de
ser do que pelas palavras.
Por isso, Paulo, falando aos tessalonicenses, como que
esquecido das alturas de seu apostolado, disse: Fizemo-nos pequenos no meio de vós.
Também o apóstolo Pedro ao dizer: Preparados sempre a dar satisfação a quem vos
pede explicações sobre a esperança que tendes, afirma o dever de, na própria
ciência da doutrina, manter a virtude do que ensina, acrescentando: Mas com
modéstia e temor, em boa consciência.
Quando Paulo diz ao discípulo: Ordena e ensina com toda a
autoridade, não fala de um domínio, mas se refere ao dever de persuadir pela
autoridade da vida. Com autoridade se ensina aquilo que se vive antes de dizê-lo,
pois não se tem confiança na doutrina quando a consciência impede a fala. Por
conseguinte, Paulo não lhe sugeriu a força de palavras soberbas, mas a
confiança da vida reta. Sobre o Senhor está escrito: Ensinava como quem tinha
poder, não como os escribas e fariseus. De modo singular e essencial foi ele o
único a pregar o bem com autoridade, porque nunca cometeu mal algum por fraqueza.
Com efeito, pelo poder da divindade, possuía o que nos ministrou pela inteireza
de sua humanidade.
São
Gregório Magno (540/604)
Papa e Doutor da
Igreja
Fonte: Liturgia das Horas
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Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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