Estamos
refletindo na liturgia o segundo livrinho que compõe o evangelho de João, que
se ocupam dos capítulos 13,1-20,29. Estes capítulos nos apresentam os últimos
momentos da presença de Jesus na terra, sua proximidade com os discípulos. Sua
morte tem um sentido muito profundo de superação, ele retorna ao Pai,
retratando sua vitória sobre o mundo da mentira, das divisões, dos sinais de
morte produzidos pelo sistema anti reino no século I d.C.
Podemos
ver claramente que as narrativas focam o plano de Deus baseado na unidade
querida e sonhada por Deus.
Jesus
ora ao Pai, apresentando a comunidade dos discípulos, formada para promover o
reino na terra, contrário ao anti-reino que impera através das mentiras e de
toda forma de expressões de morte ou negação da vida. Na sua oração, Jesus quer
despertar na comunidade a consciência de que ela está no mundo, não para
comungar com as coisas do mundo, mas, para transformá-lo através da presença
que sinalize o reino de Deus.
Um
dos pontos fundamentais, que aparece ao longo deste capítulo é o rompimento da
comunidade com o sistema de morte que impera no mundo, que se dá na busca de
unidade e da comunhão como expressões da presença do reino. A comunidade cristã
recebeu de Jesus a Palavra a ser comunicada e vivida, testemunhada na
perseguição. Jamais, podemos negar as tensões presentes na comunidade dos
discípulos muitas vezes, manifestadas na infidelidade ao projeto de Deus, mas,
jamais, imaginar que o centro são as divisões, elas estão presentes para provar
a própria comunidade, mas, é necessário se ter a consciência de que se está no
mundo, sem ser do mundo, mas de Deus. Enquanto está neste mundo é inevitável a
contaminação com as feridas presentes, mas, não se contentar com isso, mas,
superar as divisões na vivência do amor oblação, este amor entrega total que é
sinônimo de uma entrega missionária pelo reino de Deus.
Estamos
celebrando os 50 anos do Concílio Vaticano II, realizado de 11 de outubro de
1962 a 08 de dezembro de 1965, evento que se propôs manter fidelidade a
Tradição ousando colocar a Igreja em diálogo com o mundo moderno marcado pelas
grandes transformações, o avanço das ciências, da tecnologia, a busca de
sentido da vida num mundo ferido pelas duas guerras mundiais, resultando nas
inquietações e busca pela paz, pela unidade em meio à diversidade. O Vaticano
II é celebrado como resposta ao um mundo em constantes tensões, e um convite ao
mesmo tempo à unidade, por isso, foi reconhecido como Ecumênico literalmente
falando na articulação do Cardeal Agostino Bea pela Comissão responsável pela
unidade entre os cristão no próprio Concílio.
Após
50 anos da realização do Concílio Vaticano, meditando a Palavra de Deus neste
tempo que se aproxima da Festa de Pentecoste, com os textos de João, somos
convocados por Jesus mais uma vez, para caminhar na contra mão do mundo que
investe impiedosamente na violência, na matança de inocentes, na corrupção e em
muitos outros sinais de morte. A oração de Jesus é atual para os cristãos do
século XXI, em meio às divisões e competições desmedidas. Jesus é claro, quando
diz: “Eu já não estou no mundo. Eles, porém, estão no mundo. E eu vou para
junto de ti. Pai santo, guarda-os no teu nome, o nome que tu me deste, para que
eles sejam um, assim como nós” (Jo 17,11). “A experiência da ruptura com o
mundo será constante, e será preciso resistir a suas ofertas e ameaças”.
(rodapé da nova Bíblia Pastoral p. 1318)
Relendo
os textos, podemos traçar o perfil da comunidade sonhada, querida e amada por
Deus que aparece no Evangelho, uma comunidade fundada no testemunho da presença
de Jesus que está em unidade com o Pai. Seguramente, a constituição da
comunidade primitiva se deu em meio às grandes tensões e conflitos, por isso, a
necessidade de sempre está se falando de amor.
Quais
os traços da comunidade joanina que estão presentes em nossas comunidades
cristãs e no mundo atual? Como esta comunidade pode nos ajudar na promoção da
unidade e comunhão neste contexto em que vivemos e somos chamados a testemunhar
o amor de Deus?
Frei
Geraldo Bezerra de Sousa, OC
Província
Carmelitana Pernambucana
Fique com Deus e sob a proteção da Sagrada Família
Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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