A Criação é dom gratuito de Deus, mas pode ser lógico.
Podemos entendê-la como consequência natural do amor que Deus é (1 Jo 4,8). A
tendência da água que não pára de jorrar é transbordar e não conter em si. O
amor de Deus não pára de jorrar. É mais do que plausível ver o gigantesco
Universo como um ato de transbordamento do amor infinito de Deus, que criou e
vai continuar criando, porque o amor é essencialmente criador.
É impossível acreditar em Deus e ao mesmo tempo negar que
Ele tenha sido o autor do Universo. Ele até já existiu sem o Universo, muito
antes do nascer da primeira luz (Jo 1,1-2). Mas a partir da Criação é
impossível imaginar Deus sem pensar na sua Obra. Por isso, o vemos como Pai e
Criador. Não é apenas Pai do Filho eterno. É pai de tudo e de todos. Um pai
continua pai, mesmo que seu filho morra ou vá embora. Se o filho agisse como
não filho, o pai talvez até poderia agir como não pai, mas no caso do Criador,
não pode agir como não pai ou não Criador. Vai contra a essência de Deus. Ele é
essencialmente Pai e Criador.
Se eu não estivesse vivo, não estaria havendo da minha parte
este raciocínio, até porque não existiria. O fato de eu existir, supõe que
houve alguém antes de mim. Meu pai, minha mãe e antes dos meus pais houve
outros e outros e outros, até que chegamos a este Outro de quem tudo veio. A
doutrina da causa primeira entre os cristãos e, consequentemente, entre os
católicos, é de que Deus é a causa primeira: todos os outros seres são efeito
desta causa primeira. Eu posso ser uma causa para o outro, mas eu sou efeito de
outro. Eu venho de alguém que é anterior a mim e me criou. Mas o conceito de
criação só faz sentido, se cremos no Deus que "nos" criou e não
apenas no Deus que "me" criou.
A fé na Criação só faz sentido se colocarmos isso no plural.
Ele nos criou uns para os outros, uns entre os outros. Então, o primeiro sinal
de que alguém entendeu a catequese cristã é quando diz que Deus nos criou e só
depois disso, é que diz também me criou. O motivo de eu crer, não é porque Deus
me criou, mas é porque Deus nos criou. Eu faço parte de um projeto gigantesco
do Deus que é criador. Estou no Universo e se não o encarar com inteligência e
respeito, serei um marginal.
Toda vez que usarmos a palavra Criação, lembremo-nos da
palavra nós, e entenderemos melhor o projeto de Deus. Quem sabe respeitaremos
aquela pequena árvore que nasceu no jardim da Praça Quinze. Ele também a criou.
Oremos para entendermos estas coisas.
Texto: Pe. Zezinho scj
Fonte: Edições Paulinas
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