Primeira Leitura: Is 35,4-7a - Sl 145,7.8-9a.9bc-10
(R.1.2a) - Segunda Leitura: Tg 2,1-5 - Evangelho: Mc 7,31-37
Muitas vezes, na Escritura, se fala da iniciação à fé como
se tratasse de uma cura da nossa surdez e do nosso mutismo. Não é por acaso. A
fé, realmente vivida, torna o homem atento à palavra de Deus e o faz
proclamá-la; a falta de fé, ao contrário, torna o homem surdo e mudo. A
passagem da incredulidade à fé comporta, pois, uma cura do nosso mutismo e da
nossa surdez (evangelho).
Isaias, seguindo também a lógica deste modo de pensar, que
considera a cura de uma moléstia física como libertação de um defeito moral,
imagina a futura restauração messiânica como uma intervenção de Deus para
alívio dos deprimidos, dos cegos, dos surdos, dos coxos e dos mudos (1ª
leitura).
Marcos integrou talvez este milagre num ritual de iniciação
batismal já existente; a passagem parece ser disso um eco. Os mais antigos
rituais batismais já previam um rito sobre os sentidos (olhos em At 9,17; nariz
e ouvidos na Tradição de Hipólito).
Escutar e proclamar a palavra
Com frequência a Bíblia descreve a situação do povo, fechado
à palavra de Deus, como tendo-se tornado surdo e mudo, e assegura que a
desobediência à palavra torna os lábios e os ouvidos inúteis. Quando volta uma
época de obediência a Deus, imediatamente as línguas se soltam e proclamam a
glória de Deus, como se todos profetizassem. Essas imagens revelam uma verdade
essencial: a nossa fé se apóia totalmente numa escuta da palavra de Deus e em
sua vivência na prática. Ler ou proclamar a palavra de Deus significa
reconhecer o primado de Deus em nossa vida. Os cristãos, como os judeus, sabem
que sua fé depende da palavra de Deus; se empregam só palavras humanas para
falar de Deus são comparáveis a um mudo ou a uma criança que balbucia.
No batismo o Senhor nos abre os ouvidos
e os lábios
O gesto de Jesus narrado pelo evangelho torna-se atual num
gesto feito na Igreja para a iniciação dos catecúmenos. No rito do batismo, atualmente
em vigor, o gesto do effata foi colocado no fim, entre os sinais de conclusão e
de exortação. Enquanto toca os ouvidos e a boca do batizando, o celebrante diz:
"O Senhor Jesus, que fez os surdos ouvirem e os mudos falarem, te conceda
que possas logo ouvir a sua palavra e professar a fé para louvor e glória de
Deus Pai”. Há aqui uma clara intenção pastoral: fazer os pais e padrinhos
compreenderem que a criança que eles fizeram batizar deverá ser
"instruída” na fé pela escuta da palavra de Deus, e ser educada para a
expressão desta fé na oração e na vida. A palavra de Deus na Igreja depois do
Concílio e da reforma litúrgica recuperou o lugar que lhe compete: leitura da
Bíblia, celebrações bíblicas, nova importância dada à liturgia da palavra.
A liturgia eucarística propriamente dita é sempre precedida
por uma liturgia da palavra. Não se trata de uma justaposição.
Compreender a atualidade da Palavra
O papel da palavra na celebração é tão essencial, que a
missa pode chamar-se uma celebração eucarística da palavra. Proclama-se ai a
palavra de Jesus, expressão perfeita da palavra de Deus, extraída das
Escrituras. Mas celebra-se antes de tudo o hoje de Jesus Cristo no meio do
mundo.
A palavra revela aos participantes o ritmo pascal, oculto
nos acontecimentos de sua vida e da vida do mundo; interpela-os até o Intimo da
alma, convida-os à renovação da fé e os introduz concretamente na obediência
até a morte, cujo exemplo definitivo foi-lhes dado por Jesus. Em virtude da
palavra, a ação de graças do povo reunido em memória da paixão e ressurreição
de Cristo, adquire toda a sua atualidade e promove a maior fidelidade à vontade
de Deus expressa nos sinais dos tempos.
"A catequese é momento central de toda atividade
pastoral, de toda solidariedade e instituição eclesial, de toda estrutura que
possa contribuir para a edificação do Corpo Místico de Cristo. A palavra de
Deus é essencial para toda experiência cristã; não há iniciativa ou estrutura
pastoral que não reflita a exigência de escutar, de apresentar e de aprofundar
a mensagem evangélica”. (RdC 143)
Fonte: Missal Dominical
(Paulus)
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Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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