Reconhecer-se pecadores e ser capazes de pedir perdão é o
primeiro passo para responder com clareza, sem negociações, à pergunta direta
que Jesus dirige a cada um de nós: «estás comigo ou contra mim?». O convite a abrir-se incondicionalmente à
misericórdia de Deus foi relançado pelo Papa durante a missa celebrada na manhã
de quinta-feira, 3 de março, na capela da Casa de Santa Marta.
No início da primeira leitura, observou Francisco, o profeta
Jeremias (7,23-28) «recorda-nos o pacto de Deus com o seu povo: “Escutai
a minha voz: serei vosso Deus e vós sereis o meu povo; segui sempre a senda que
vos indicar, a fim de que sejais felizes”». É «um pacto de fidelidade».
E «ambas as
leituras - prosseguiu - nos narram
outra história: este pacto falhou e hoje a Igreja faz-nos refletir sobre,
podemos chamá-la assim, a história de uma fidelidade fracassada». Na realidade
«Deus permanece sempre fiel, porque não pode renegar-se a si mesmo» mas o povo
trama infidelidades «uma atrás da outra: é infiel, permaneceu infiel!».
No livro de Jeremias lê-se que o povo não manteve o pacto. «Eles
não ouviram nem prestaram atenção à minha Palavra». A Escritura, explicou
Francisco, «narra-nos
também muitas ações que Deus realizou nos corações do seu povo: “Desde
o dia em que vossos pais deixaram o Egito até agora, enviei-vos todos os meus
servos, os profetas. Eles, porém, não me ouviram, não prestaram atenção;
endureceram a cerviz e procederam pior que os seus pais”». Este
trecho de Jeremias acaba com uma forte expressão: «A lealdade desapareceu, tendo sido banida da boca deles».
A «infidelidade do povo de Deus», assim como a
nossa, «endurece
o coração: fecha o coração!»; e «não deixa que a voz do Senhor entre, que como
pai amoroso, nos pede sempre para nos abrir à sua misericórdia e ao seu amor».
No salmo 94 «rezamos
todos juntos: escutai hoje a voz do Senhor; não endureçais o vosso coração! Verdadeiramente,
afirmou o Pontífice, «o Senhor fala-nos sempre desta forma» e «também com
ternura de pai nos diz: regressai a mim com todo o coração, porque sou
misericordioso e piedoso».
Contudo «quando o coração endurece não se compreende isto»
explicou Francisco. Com efeito, «a misericórdia de Deus só é compreendida se formos
capazes de abrir o nosso coração, para que possa entrar». E «isto
continua, prossegue: o coração endurece-se e vemos a mesma história» no trecho
do Evangelho de Lucas (11,14-23) proposto pela liturgia de hoje. «Havia aquelas
pessoas que estudaram as Escrituras, os doutores da lei que sabiam a teologia,
mas eram muito fechados. A multidão estava admirada: a admiração! Porque a
multidão seguia Jesus. Alguém dirá: “Mas seguiam-no para que a curasse,
seguiam-no por isso”».
A realidade, observou Francisco, era que o povo «tinha
fé em Jesus! Tinham o coração aberto: imperfeito, pecador, mas de coração
aberto». Ao contrário «os teólogos mantinham uma atitude fechada». E
«procuravam sempre uma explicação para não compreender a mensagem de Jesus». A
ponto que, neste caso específico, como narra Lucas, dizem: «Ele expele os demônios
por Belzebu, príncipe dos demônios». E assim procuravam sempre outros
pretextos, continua o trecho evangélico, «para o pôr à prova, outros pediam-lhe
um sinal do céu». O problema de fundo, frisou o Papa, era o seu permanecer
«fechados». Deste modo «era Jesus que devia justificar o que fazia».
«Eis a história desta fidelidade mal
sucedida - disse Francisco - a história dos
corações fechados, dos corações que não deixam entrar a misericórdia de Deus,
que se esqueceram da palavra “perdão” - “Perdoai-me, Senhor!” - simplesmente porque não se sentem pecadores:
sentem-se juízes dos outros». E é «uma história que dura há séculos».
Precisamente «esta fidelidade mal sucedida é explicada por Jesus com
duas palavras claras para pôr fim ao discurso dos hipócritas: “Quem
não está comigo, é contra mim!”». A linguagem
de Jesus, realçou o Papa, é «clara: ou se é fiel, com o coração aberto a Deus que é fiel
contigo, ou se é contra Ele: “Quem não está
comigo, é contra mim”». Alguém poderia pensar que, talvez, exista «uma
alternativa para estabelecer uma negociação», ignorando a clareza da palavra de
Jesus «ou és fiel ou estás contra». E, efetivamente, respondeu Francisco, «existe uma
saída: confessa-te, pecador!». Porque «se dizes “sou pecador” o coração abre-se
e a misericórdia de Deus entra e começas a ser fiel».
Antes de prosseguir a celebração, o Pontífice convidou a
pedir «ao Senhor a graça da fidelidade». Com a consciência de que «o primeiro
passo para seguir este caminho da fidelidade é sentir-se pecador».
Com efeito «se
não te sentes pecador, começas mal». Portanto, concluiu Francisco, «peçamos a graça
a fim de que o nosso coração não endureça, que esteja aberto à misericórdia de
Deus, e a graça da fidelidade». E também «quando somos infiéis, a graça de pedir
perdão».
Fonte: Libreria Editrice
Vaticana
Publicado no L'Osservatore
Romano, ed. em português, n. 10 de 10 de março de 2016
w2.vatican.va/content/francesco/pt/cotidie/2016/documents/papa-francesco-cotidie_20160303_historia-fidelidade-fracassada.html
Foto retirada da internet
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Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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