Introdução ao espírito da
Celebração
A Liturgia deste Domingo lembra-nos que a oração frequente,
na escuta atenta da Palavra de Deus, deve ocupar um lugar prioritário na nossa
vida diária. Se o trabalho nos afasta de Deus, algo está errado. Deus criou-nos
para O amarmos sobre todas as coisas e amarmos o próximo como a nós mesmos.
Temos que fazer do trabalho um exercício de amor. Tudo devemos fazer para a
glória de Deus.
Primeira Leitura
Abraão acolhe, no Hebron, com requintes de delicadeza, o próprio
Deus que vem ao seu encontro, em forma humana, acompanhado por dois Anjos,
também em forma humana. Como recompensa, o Senhor dá cumprimento à promessa que
lhe fizera: dentro de um ano, Sara, sua esposa, dará à luz um filho.
A Liturgia de hoje propõe-nos a hospitalidade de Abraão em
função daquela outra hospitalidade das irmãs de Lázaro, também oferecida ao
Senhor. Porém, à sombra do carvalho de Mambré (um pouco a Norte de Hebron), não
se podia dizer, com propriedade, que Deus comia, ao passo que, quando Jesus
tomava os manjares cuidadosamente preparados por Marta, era o próprio Deus que
comia, em virtude do mistério da Encarnação.
2 «Viu três homens». Nesta misteriosa teofania, cujo relato
fortemente antropomórfico evidencia a tradição javista, Deus aparece «em forma
humana» não sendo reconhecido logo à primeira. O Senhor vem acompanhado de
outras duas figuras, igualmente de forma humana, dois anjos, segundo adiante se
diz (19, 1). Abraão tem para com os caminheiros uma magnífica hospitalidade
(vv. 4-8), de estilo oriental, enquanto lhes vai reconhecendo, pouco a pouco, o
carácter sobrenatural (vv. 9.13.14).
3 «Meu Senhor…» Abraão dirigia-se àquele que lhe perece ser
o chefe da comitiva. Muitos Padres, fazendo uma exegese espiritual, viram aqui
um prenúncio da futura revelação da SS. Trindade: é célebre a frase de Santo
Hilário «tres vidit et unum adoravit» («viu três e adorou um»).
10 «Daqui a um ano», à letra, «no tempo da vida» (ka‘et
hayyáh), que alguns traduzem «daqui a nove meses» (o tempo da gravidez).
Segunda Leitura
S. Paulo esquece-se de si para se dar aos outros; por isso
sente-se alegre, mesmo quando sofre, «completando em si próprio o que falta às
tribulações de Cristo, em benefício da Igreja».
24 «Completo». O verbo grego (ant-ana-plêrô), sendo composto
de duas preposições que lhe enriquecem o significado, é difícil de traduzir em
toda a sua expressividade: «antí» encerra a ideia de «em vez de (outrem)»;
«aná», a ideia de «até cima» (isto é, a transbordar). Há pois uma realidade
inacabada que há que completar plenamente («até cima»). S Paulo não diz que a
obra da Salvação, enquanto Redenção objetiva, não tenha sido perfeita, ou lhe
falte algo para atingir o seu valor intrínseco, mas deixa ver como ele próprio
tem uma missão a cumprir plenamente em benefício da Igreja, isto é, em ordem à
salvação das almas, e esta missão tem de a levar a cabo «em vez de» alguém, que
é Cristo, de quem se tornou «ministro» (v. 23) e «embaixador» (cf. 2 Cor 5,
20). E, neste sentido, há algo que falta à «paixão de Cristo». A palavra
traduzida por «paixão» é expressa em grego por um termo que nunca aparece no
Novo Testamento aplicado à Paixão de Jesus: «thlípsai» (tribulações). E que
tribulações de Cristo são estas? São as que Cristo sofreu na sua vida mortal,
ou as que sofrem os cristãos, membros do Corpo (místico) de Cristo? Uns,
seguindo os Padres Gregos, pensam que se deve entender a expressão referida aos
próprios padecimentos de Jesus, não no sentido de que tivesse faltado algo à
sua Paixão para poder redimir os homens, mas no sentido de que Deus conta com o
sacrifício e a colaboração dos homens para aplicar a todas as pessoas os
méritos da Redenção (Redenção subjetiva), o que está de acordo com 1 Cor 3,
5-15; 4, 1-5; segundo esta opinião, S. Paulo quer dizer que é à própria Paixão
de Cristo que falta a nossa quota parte (para que os seus méritos sejam
aplicados). Outros, seguindo Santo Agostinho, entendem por «tribulações de
Cristo» as tribulações padecidas pelos membros do seu Corpo Místico, pois a
Paixão de Cristo continua-se nos membros da Igreja que sofrem em união com
Cristo; em favor desta opinião está o termo grego que, como disse, nunca se
aplica à Paixão de Jesus. De qualquer modo, exprime-se sempre neste texto uma
realidade misteriosa e sobrenatural: é que temos uma missão a levar a cabo –
completar em benefício de Igreja –, a favor da salvação de todos, «com os
sofrimentos que suporto»; e esta missão é corredentora.
Evangelho
Ouvir a Palavra de Deus e pô-la em prática é o que há de
mais importante na nossa vida. Ouçamos o que nos diz o Evangelho.
38 «Entrou em certa povoação». É razoável pensar que se
trata de Betânia, «aldeia de Maria e de Marta» (Jo 11, 1; 12, 1-3), situada na
vertente oriental do Monte das Oliveiras, a cerca de uns 3 km a leste de
Jerusalém, hoje chamada El-’azariye (isto é, a terra de Lázaro). Só S. Lucas
relata este verdadeiro «idílio familiar», o que denota quanto Jesus era amigo
daqueles três irmãos; o facto de omitir o nome da aldeia pode dever-se a querer
evitar apresentar Jesus já em Jerusalém ainda antes de terminar a secção da
«grande viagem» rumo a Jerusalém.
41 «Marta, Marta, andas inquieta e agitada…» Marta é quem
recebe Jesus como verdadeira dona de casa, ativa, cuidando todos os pormenores:
Maria é uma «alma interior», contemplativa, silenciosa. O génio ativo de Marta,
obcecado pelo cuidado de preparar para Jesus um bom acolhimento, entra em
choque com a aparente inatividade contemplativa da irmã e este choque toma a
forma dum protesto dirigido a Jesus, que parecia favorecer a inatividade da
irmã: «Senhor, não te importas…» (v. 40). Mas Jesus dá razão a Maria! A única
coisa necessária é privar com o Mestre, estar atento às suas palavras. Esta
única coisa necessária parece ter, pois, um sentido espiritual já na própria
intenção de Jesus ao falar; não se trata de uma só coisa (para comer), como se
Jesus quisesse apenas dizer: um prato chega. Alguns traduzem «há necessidade
de poucas coisas, ou melhor, uma só», baseados em códices de muito valor. Neste
caso, nas palavras de Jesus, haveria a passagem de um sentido material –
«poucas coisas» – para um sentido espiritual – «uma só». No texto original, a
parte escolhida por Maria é designada como «a boa porte», o que deixa ver uma
suave censura à preocupação de Marta, não porque seja reprovável preparar uma
boa refeição a Jesus, mas sim o dar a este trabalho um valor exagerado, pois os
seus discípulos não devem andar «inquietos» com as coisas de comer e de beber,
mais do que com as coisas do Reino de Deus (cf. Lc 12, 29-31; Mt 6, 25-34).
Sugestões para a homilia
O trabalho feito por amor
Temos de ser santos através do trabalho ordinário, realizado
com perfeição. Temos de amar a Deus e os homens, pondo amor nas coisas pequenas
da jornada diária, procurando descobrir «esse algo divino que está escondido»
nos pequenos pormenores.
«A vida de Jesus é inequívoca: pertence ao mundo do
trabalho, reconhece e respeita o trabalho humano… Ele olha com amor o trabalho,
as suas diversas manifestações, vendo em cada uma delas um aspecto particular
de semelhança do homem com Deus, Criador e Pai» (João Paulo II, Laborem
exercens, n.26).
«Tudo fez bem feito» (Mc. 7, 37). Estas palavras resumem bem
o que foi a vida de Jesus na terra. O trabalho feito ao calor do amor de Deus
faz crescer e melhorar em todas as virtudes, purificando-nos das escórias e
impurezas que pouco a pouco se vão amontoando na nossa vida. O nosso trabalho
deve ser feito:
– com generosidade, sem regatear tempo e esforço, enchendo
as horas de trabalho intenso e bem feito. Abraão, como ouvimos na 1ª leitura,
foi generoso e esforçou-se delicadamente no acolhimento dos três Personagens
misteriosos que o visitaram.
– com ordem, fazendo em cada momento o que se deve fazer e
estando atentos ao que se está fazendo (Cfr. Caminho 815). Jesus chama a
atenção de Marta para que não esqueça outros deveres e para não andar demasiado
inquieta com o seu trabalho, esquecendo Aquele para quem estava a trabalhar.
– com justiça e caridade, virtudes essenciais para
santificar o trabalho.
– com audácia e fortaleza, perante o possível comportamento
imoral de companheiros de trabalho.
– com mortificação e esforço. Também Jesus conheceu o
cansaço e a fadiga que acompanham as tarefas diárias e experimentou a monotonia
dos dias sempre iguais.
A fadiga e o cansaço no trabalho humano
«O suor e a fadiga que o trabalho leva consigo
necessariamente na condição atual da humanidade oferecem ao cristão e a cada
homem, que foi chamado a seguir Cristo, a possibilidade de participar no amor à
Obra da Redenção que Cristo veio realizar. Esta obra de salvação realizou-se
precisamente através do sofrimento e da morte na Cruz. Suportando a fadiga do
trabalho em união com Cristo crucificado por nós, o homem colabora de certo
modo com o Filho de Deus na Redenção da humanidade. Mostra-se verdadeiro
discípulo de Jesus, levando por sua vez a cruz de cada dia na atividade que foi
chamado a realizar» (João Paulo II, Laborem exercens,n.27).
Todo o trabalho, segundo o desígnio de Deus, deve referir-se
a Deus, pois trata-se de colaborar com o Criador na construção o mundo. O
trabalho pode converter-se em algo «monótono» e «aborrecido», algo «sem
sentido», se o último fim do mesmo é apenas a obtenção de meios económicos para
o sustento próprio e da família, ou o ficar bem perante as pessoas das quais
dependemos.
Também o afã profissional pode converter-se em «obsessão» o
numa espécie de «droga»: trabalha-se muito, perdendo o verdadeiro sentido do
trabalho, convertendo num fim aquilo que não é nem deve ser mais que um meio,
arruinando-se a si mesmo e à família.
«O trabalho é somente uma possibilidade de servir a todos os
homens por amor de Deus. A dignidade do trabalho está fundamentada no amor. O
grande privilégio do homem é poder amar. Por isso, não devemos limitar-nos a
fazer coisa, a construir objetos. O trabalho nasce do amor, manifesta-se no
amor, ordena-se ao amor» (Cfr. S. Josemaria, Cristo que passa, 48).
Buscar somente a glória de Deus
«…Vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai que
está nos Céus» (Mt 6, 1).
Movidos pelo amor, seremos capazes de contemplar a Deus no
nosso trabalho, santificando e santificando-nos a nós nesse trabalho. Assim,
faremos de todo o nosso trabalho oração, num diálogo ininterrupto com Aquele
para quem trabalhamos, oferecendo a Deus Pai todas as nossas obras em união com
o Sacrifício da Cruz, que se renova sacramentalmente na Eucaristia.
Meditemos frequentemente no trabalho redentor de Jesus na
sua vida oculta.
«Senhor, concede-nos a tua graça. Abre-nos as portas da
oficina de Nazaré, com o fim de aprendermos a contemplar-Te a Ti, com Tua Mãe
Santíssima e com o Santo Patriarca José…dedicados os três a uma vida de
trabalho santo. Remover-se-ão os nossos pobres corações, buscar-Te-emos e Te
encontraremos num trabalho diário, que Tu desejas que convertamos em obra de
Deus, em obra de amor» (S. Josemaria, Amigos de Deus, 72).
Fonte: presbiteros.com.br
Foto retirada da internet caso
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