18ª Semana do Tempo Comum - 2ª Semana do Saltério
Prefácio próprio - Ofício festivo próprio - Glória
Cor: Branco - Ano “C” Lucas
Santo do Dia: TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR - Festa
Antífona: Antífona: Mateus 17,5 - O Espírito Santo apareceu na
nuvem luminosa e a voz do Pai se fez ouvir: Este é meu Filho amado, nele
depositei todo o meu amor. Escutai-o.
Oração do Dia: Ó Deus, que na gloriosa Transfiguração de vosso Filho
confirmastes os mistérios da fé pelo testemunho de Moisés e Elias, e
manifestastes de modo admirável a nossa glória de filhos adotivos, concedei aos
vossos servos e servas ouvir a voz do vosso Filho amado, e compartilhar da sua
herança. Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!
Primeira Leitura: Profecia de Daniel
7,9-10.13-14
Eu continuava
olhando até que foram colocados uns tronos, e um Ancião de muitos dias aí tomou
lugar. Sua veste era branca como neve e os cabelos da cabeça, como lã pura; seu
trono eram chamas de fogo, e as rodas do trono, como fogo em brasa.
Derramava-se aí um rio de fogo que nascia diante dele; serviam-no milhares de
milhares, e milhões de milhões assistiam-no ao trono; foi instalado o tribunal
e os livros foram abertos. Continuei insistindo na visão noturna, e eis que,
entre as nuvens do céu, vinha um como filho do homem, aproximando-se do Ancião
de muitos dias, e foi conduzido à sua presença. Foram-lhe dados poder, glória e
realeza, e todos os povos, nações e línguas o serviam: seu poder é um poder
eterno que não lhe será tirado, e seu reino, um reino que não se dissolverá. - Palavra do Senhor.
Comentário: O livro de Daniel surgiu num
tempo de muitas dificuldades para o povo de Deus: trata-se do período dos
Macabeus (II século a.C.), quando os judeus eram oprimidos pela dominação
selêucida De Antíoco IV Epífanes. O livro quer mostrar, portanto, o conflito entre
o povo de Deus e o imperialismo, para daí tirar importantes lições.
O
autor emprega uma linguagem que para nós parece muito estranha, pois é cheia de
símbolos, imagens e figuras cuja compreensão não atingimos à primeira vista.
Trata-se de um modo de escrever chamado apocalíptico, próprio para tempos
difíceis. Esse gênero literário nasceu praticamente com Daniel, e estava muito
em voga na época do Novo Testamento. Trata-se de uma comunicação alternativa,
compreendida e assimilada somente por quem sofre na pele as consequências da
opressão. O principal objetivo desse modo de escrever é animar as comunidades
para a resistência diante dos poderes tiranos, como o imperialismo selêucida. O
capítulo 7 de Daniel apresenta a visão das quatro feras. São forças opressoras,
presentes na história, em luta contra o projeto de Deus e contra o povo que ele
escolheu para realizar esse projeto. As feras são personificações dos grandes
impérios que oprimiram o povo de Deus desde os babilônios até Antíoco IV
Epífanes, a quarta fera (175-164 a.C.). Antíoco é apresentado como a mais
arrogante das quatro feras, pois no seu tempo impôs aos judeus a cultura grega,
perseguindo e matando os que se mantivessem fiéis ao projeto de Javé. Em meio a
essa história cheia de conflitos, Daniel vê um Ancião de roupas e cabelos
brancos sentar-se num trono (v. 9ab). Está cercado por multidões de anjos, os
mediadores de sua ação na história (v. 10). Esse Ancião é o próprio Deus, o
Senhor da Vida (roupas e cabelos brancos) e da História (sentado no trono). Ele
julga sem que alguém possa distorcer seu julgamento (“Seu trono eram chamas de
fogo com rodas de fogo ardente. Um rio de fogo corria, irrompendo diante dele”,
vv. 9c-l0a). A descrição dos vv. 9-10 serve de alerta para o povo oprimido.
Mostram, ao mesmo tempo, que Deus está agindo na história, tomando partido,
julgando e destruindo as feras que devoram o projeto de liberdade e vida: “O
tribunal tomou assento e os livros foram abertos” (v. l0b). Os vv. 13-14
mostram como o julgamento de Deus se faz presente na história: “Contemplei em
visões noturnas, e vi aproximar-se, sobre as nuvens do céu, alguém semelhante a
um filho de homem; ele avançou até junto do Ancião, ao qual foi apresentado”
(v. 13). O filho do homem é personagem simbólica. A explicação da visão vai
mostrar que se trata do povo de Deus que, por causa de sua fidelidade, está
sendo perseguido e morto pelas “feras” que agiram e agem na história. Esse povo
se encontra diante do juiz da história (Deus), gozando de sua intimidade e proteção.
E o Ancião lhe confere o que ele próprio possui: domínio, poder e realeza, e
todos os povos, nações e línguas deverão servi-lo (v. 14a). Em outras palavras,
o julgamento de Deus sobre as feras da terra se realiza mediante a fidelidade e
resistência do povo fiel. Deus confia seu projeto a esse povo perseguido,
caçado e morto pelos poderes absolutizados. É a leitura da história feita sob a
ótica da fé que privilegia os oprimidos enquanto depositários das promessas,
expectativas e realeza divinas. É assim que Javé julga a humanidade:
posicionando-se junto aos oprimidos e confiando-lhes seu projeto, vencendo com
eles os poderes que geram e patrocinam a morte. O texto de hoje termina
afirmando que o domínio do filho do homem (povo de Deus) é eterno e não acabará,
seu reino jamais será destruído (v. 14b). Com o passar do tempo, o conceito de
reino foi associado à pessoa do rei. Desse modo, o que em Daniel se referia à
história presente do povo de Deus, acabou sendo transferido para o Messias que
deveria vir. Foi assim que o Novo Testamento releu essa passagem (razão pela
qual este texto foi escolhido pela Liturgia). Isso, contudo, não nos impede de
seguir a interpretação do livro de Daniel: o filho do homem é o povo de Deus, a
quem foi confiado o projeto de liberdade e vida em meio às perseguições que as
feras de ontem e de hoje suscitam contra os que se mantêm fiéis. (Vida Pastoral)
Salmo: 96(97),1-2.5-6.9
(R. 1a.9a)
Deus é Rei,
é o Altíssimo, muito acima do universo
Deus é Rei! Exulte
a terra de alegria, e as ilhas numerosas rejubilem! Treva e nuvem o rodeiam no
seu trono, que se apoia na justiça e no direito.
As montanhas se
derretem como cera ante a face do Senhor de toda a terra; e assim proclama o
céu sua justiça, todos os povos podem ver a sua glória.
Porque vós sois o
Altíssimo, Senhor, muito acima do universo que criastes, e de muito superais
todos os deuses.
Evangelho de Jesus
Cristo segundo Lucas 9,28b-36
Naquele tempo, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e
João, seu irmão, e os levou a um lugar à parte, sobre uma alta montanha. E foi
transfigurado diante deles; o seu rosto brilhou como o sol e as suas roupas
ficaram brancas como a luz. Nisto apareceram-lhes Moisés e Elias, conversando
com Jesus. Então Pedro tomou a palavra e disse: "Senhor, é bom ficarmos
aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés, e
outra para Elias". Pedro ainda estava falando, quando uma nuvem luminosa
os cobriu com sua sombra. E da nuvem uma voz dizia:
"Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo meu agrado.
Escutai-o!"
Quando ouviram isto, os discípulos ficaram muito
assustados e caíram com o rosto em terra. Jesus se aproximou, tocou neles e
disse: “Levantai-vos, e não tenhais medo”. Os discípulos ergueram os olhos e
não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus. Quando desciam da montanha,
Jesus ordenou-lhes: “Não conteis a ninguém esta visão até que o Filho do Homem
tenha ressuscitado dos mortos”. -
Palavra da Salvação.
Comentários:
A
transfiguração de Jesus nos revela a distância que existe entre a glória à qual
todos nós somos destinados e a situação na qual vivemos no presente porque os
nossos pecados são o grande obstáculo para que a glória dos filhos de Deus se
manifeste na sua plenitude. Mas a misericórdia divina vem em nosso socorro de
modo que, pela graça, o pecado é vencido e nós somos transfigurados aos poucos
até o dia da ressurreição, quando todos os que foram resgatados na morte com
Cristo, irão viver com ele para sempre e, como diz o apóstolo São João, seremos
semelhantes a Deus, porque o veremos tal qual ele é. (CNBB)
Pedro,
Tiago e João, os mais destacados do grupo dos discípulos, tiveram o privilégio
de “ver” a glória do Messias, antecipada na cena da transfiguração. Este estava
destinado a ser glorificado por Deus, e revestido de imortalidade divina. O
episódio evangélico está todo envolvido pela presença divina. O monte, para o
qual Jesus e seus discípulos se dirigiram, simboliza o lugar da presença e da
comunicação divinas. Dirigiram-se para o alto monte, porque o ser humano deve
elevar-se para poder contemplar a manifestação da glória divina. O rosto de
Jesus, “brilhante como o sol”, apontava para a glória dos justos no reino do
Pai. Igualmente, o esplendor luminoso de suas vestes. A presença de Moisés e
Elias indicava que as Escrituras – Palavra de Deus – estão todas centradas na
pessoa de Jesus. Tudo quanto Deus havia falado a seu povo eleito tinha sido em
função do seu Filho amado. Moisés e Elias evocavam o monte Sinai, lugar da
manifestação de Deus, onde ambos estiveram. O auge da presença divina revela-se
quando uma nuvem luminosa envolveu Jesus, e a voz celeste se fez ouvir: “Este é
o meu filho amado, que muito me agrada. Escutem o que ele diz!”. Assim, os
discípulos estavam em condições de compreender a verdadeira identidade de
Jesus, na sua condição humana e divina. Este seria um dado importante para quem
haveria de ver o Mestre tornar-se vítima da incompreensão das lideranças
religiosas do povo. (Padre Jaldemir
Vitório/Jesuíta)
Fonte: CNBB - Missal Cotidiano (Paulus)
Foto retirada da internet
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