A solenidade de Pentecostes celebra um acontecimento capital
para a Igreja: a sua apresentação ao mundo, o nascimento oficial com o batismo
no Espírito. Complemento da Páscoa, a vinda do Espírito sobre os discípulos
manifesta a riqueza da vida nova do Ressuscitado no coração e na atividade dos
discípulos; início da expansão da Igreja e princípio da sua fecundidade, ela se
renova misteriosamente hoje para nós, como em toda assembleia eucarística e
sacramental, e, de múltiplas formas, na vida das pessoas e dos grupos até o fim
dos tempos. A "plenitude" do Espírito é a característica dos tempos
messiânicos, preparados pela secreta atividade do Espírito de Deus que
"falou por meio dos profetas" e inspira em todos os tempos os atos de
bondade, justiça e religiosidade dos homens, até que encontrem em Cristo seu
sentido definitivo. (cf AG 4)
O Espírito da aliança universal e definitiva
Não se pode deixar de ligar o acontecimento do Sinai com ode
Jerusalém; a assembleia das doze tribos corresponde à dos apóstolos, novo Israel;
fogo e vento manifestam a presença do Deus vivo; é dada a lei da aliança, lei
de liberdade que qualifica os filhos de Deus. A aliança, não mais limitada a um
povo escolhido para dar a conhecer o verdadeiro Deus, é aberta a todos os povos
e a todas as raças; não mais caracterizada por um sinal na carne (a
circuncisão), ela é espiritual e se exprime pela fé e o batismo (também o de
desejo); não mais renovada por homens mortais no decorrer da história, é ela
fundada sobre Cristo "que permanece eternamente". E precisamente por
ser espiritual e definitiva, sua encarnação atual na Igreja do nosso tempo com
suas instituições e nas diversas igrejas esparsas por toda a terra, com suas
peculiaridades, tem valor sacramental (isto é, traz verdadeiramente a salvação),
mas também relativo e caduco. E preciso, pois, não considerar absoluto e
definitivo algo que não seja o próprio Espírito, realidade profunda e
inexaurível de tudo o que constitui a vida da Igreja no tempo: ações
sacramentais, hierarquia, ministérios e carismas, templos e lugares. (Podem-se
reler diversos textos do Concílio a propósito do pluralismo na Igreja, da
tradução da mensagem cristã nas diversas culturas, da adaptação litúrgica, da
variedade de expressão artística; por ex.: GS 58,62; SC 37,38; 112,119,123).
O Espírito da fidelidade e da coragem
O batismo no Espírito ilumina a comunidade dos amigos de
Cristo sobre seu mistério de Messias, Senhor e Filho de Deus; faz com que
compreendam sua ressurreição como a plenificação dos planos de salvação de
Deus, não só para o povo de Israel, mas para todo o mundo; leva-os a anunciá-lo
em todas as línguas e circunstâncias, sem temer perseguições nem morte. Como os
apóstolos, os mártires e todos os cristãos, que ouviram profundamente a voz do
Espírito de Cristo, tornam-se testemunhas do que viram, do que foi transmitido
e que experimentaram em sua existência. No mundo de hoje toda a nossa
comunidade é chamada a colaborar com o Espírito da nova vida para renovar o
mundo: tanto na atividade cotidiana como nas vocações extraordinárias. E isto,
sem perder a coragem, porque "o Espírito vem em auxílio da nossa
fraqueza" (Rm 8,26), corrige e incentiva nosso esforço, faz convergir tudo
para o bem comum (2ª leitura), porque todo dom (todo carisma) vem dele, único
Espírito do Pai e do Filho.
Toda a nossa vida de cristãos está, portanto, sob o sinal do
Espírito que recebemos no batismo e na crisma, nosso Pentecostes; nela devemos
amadurecer os "frutos do Espírito" (Gl 5,22): amor, paz, alegria,
paciência, espírito de serviço, bondade, confiança nos outros, mansidão,
autodomínio...
O Espírito da novidade em Cristo
"Sem o Espírito Santo, Deus está distante, o Cristo
permanece no passado, o evangelho uma letra morta, a Igreja uma simples
organização, a autoridade um poder, a missão uma propaganda, o culto um
arcaísmo, e a ação moral uma ação de escravos.
Mas no Espírito Santo o cosmos é enobrecido pela geração do
Reino, o Cristo ressuscitado está presente, o evangelho se faz força do Reino,
a Igreja realiza a comunhão trinitária, a autoridade se transforma em serviço,
a liturgia é memorial e antecipação, a ação humana se deifica"
(Atenágoras).
Israel conhece várias festas religiosas:
Festa da Lua Nova, que marcava o início do mês (1Sm 20,5-26;
Ez 46,1-7; Nm 28,11-14; Ne 10,33-34; Gl 4,10; Cl 2,16-20). O dia festivo semanal era o Sábado (Ex
16,4-36; 20,8-11; Is 56,1-6; 58,13-14).
A Festa dos Tabernáculos era celebrada em ação de graças pela colheita
das azeitonas e das uvas (Jz 9,27; 21,19-24). Era chamada também “festa da
Colheita” ou “Festa” (Ex 23,16; 34,22; Ne 8,14; Jo 7,11; cf. Lv 23,33-44 e
nota; Dt 16,13-16; Lv 23,34-44); atinge em Cristo o seu significado pleno (Jo
7,37-39; 1Cor 10,4).
A Festa das Semanas era celebrada após a colheita do trigo.
É chamada “das semanas” porque se fazia sete semanas após a festa dos Ázimos
(Nm 28,26). É conhecida também sob o nome de “festa da Colheita” (Ex 23,16) ou
“festa das Primícias” da colheita do trigo (34,22). Mais tarde recebeu o nome
de Pentecostes (Tb 2,1; 2Mc 12,31s; At 2,1), porque se celebrava cinquenta dias
depois da oferta do primeiro feixe de espigas de cevada (Lv 23,9-14; Dt
26,1-11).
Sendo de origem agrária, Pentecostes é uma festa alegre.
Nela o israelita agradecia a Deus pela colheita do trigo, oferecendo-lhe as
primícias (primeiros frutos) do que foi semeado nos campos (Ex 23,16; 34,22).
Na época pós-exílica começou a ser celebrada nesta festa a promulgação da Lei
de Moisés (Lv 23,15-21 e nota).
Na festa de Pentecostes, após a morte de Jesus, a comunidade
cristã, reunida no Cenáculo, recebeu o dom do Espírito Santo (At 2,14).
Fonte: CNBB - Missal Cotidiano (Paulus)
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Ricardo Feitosa e
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