domingo, 15 de maio de 2016

Liturgia Diária Comentada 15/05/2016 Domingo de Pentecostes

Prefácio Próprio - Ofício da Solenidade
Glória - Sequência - Creio
Cor: Vermelho - Ano Litúrgico “C” Lucas

Solenidade: PENTECOSTES

Antífona: Sabedoria 1,7 O Espírito do Senhor encheu o universo; ele mantém unidas todas as coisas e conhece todas as línguas, aleluia!

Oração do Dia: Ó Deus, que pelo mistério da festa de hoje, santificais a vossa Igreja inteira, em todos os povos e nações, derramai por toda extensão do mundo os dons do Espírito Santo e realizai agora, no coração dos fieis, as maravilhas que operastes no início da pregação do evangelho. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém! 

Primeira Leitura: Atos dos Apóstolos 2,1-11

Quando chegou o dia de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a casa onde eles se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava.

Moravam em Jerusalém judeus devotos, de todas as nações do mundo. Quando ouviram o barulho, juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os discípulos falar em sua própria língua. Cheios de espanto e admiração, diziam: “Esses homens que estão falando não são todos galileus? Como é que nós os escutamos na nossa própria língua? Nós, que somos partos, medos e elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judéia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, também romanos que aqui residem; judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos anunciarem as maravilhas de Deus em nossa própria língua!” - Palavra do Senhor.

Comentário: Páscoa e Pentecostes eram festas agrícolas muito antigas em Israel. Com o passar dos tempos, foram transformadas em festas religiosas: Páscoa revivia a saída do Egito; Pentecostes recordava o dia em que Moisés, no monte Sinai, recebeu a Lei, tida como o maior presente de Deus ao povo. Quando Lucas escreveu os Atos dos Apóstolos (cerca de meio século após o Pentecostes), a evangelização já havia alcançado todas as nações até então conhecidas (os confins do mundo; cf. At 1,8). Isso quer dizer que, quando esse livro foi escrito, todos os povos que Lucas diz estar em Jerusalém no dia de Pentecostes já tinham recebido o anúncio de Jesus, já tinham sido evangelizados. Por que, então, Lucas recorda o evento de Pentecostes? Ele quer mostrar a universalidade do povo de Deus e da evangelização. Na ótica da fé, tudo isso é obra do Espírito de Jesus. Ao descrever o episódio de Pentecostes, Lucas se serve de esquemas já presentes no Antigo Testamento. Ele coloca a vinda do Espírito Santo cinquenta dias após a Páscoa para fazê-la coincidir com o Pentecostes judaico, no qual o povo judeu celebrava o dom da Aliança no Sinai, a entrega da Lei (Decálogo), o surgimento de um arranjo social comprometido com a vida e a justiça. De fato, segundo Ex 19, cinquenta dias depois que o povo saiu do Egito, Deus fez aliança com ele no monte Sinai, entregando-lhe, por meio de Moisés, a Lei. O fato foi acompanhado de trovões, relâmpagos e trombeta tocando. Ora, esse episódio é uma das bases sobre as quais Lucas constrói a narrativa do Pentecostes: cinquenta dias após a Páscoa, estando os discípulos reunidos em Jerusalém, houve um barulho como o rebentar de forte ventania (At 2,1-2). Com isso, Lucas afirma que, em Jerusalém, acontece a Nova Aliança; surge o Novo Povo de Deus; é dada a Nova Lei: o Espírito Santo. Lucas se inspira em outro texto do Antigo Testamento: Números 11,10-30, onde Deus repartiu seu Espírito sobre Moisés e os setenta anciãos, para que pudessem organizar o povo. E Moisés exprimiu o desejo de que todo o povo recebesse o Espírito de Javé (Nm 11,29). Esse substrato serviu de molde para Lucas, a fim de mostrar que, finalmente, o Espírito de Deus foi derramado sobre todos no dia de Pentecostes. No início do evangelho, o Espírito tomara conta de Jesus (cf. Lc 4,18). No início dos Atos, o mesmo Espírito toma posse de todas as pessoas. Finalmente, Lucas se serve de Gênesis 11,1-9, o episódio da torre de Babel, onde Deus confundiu a ambição das pessoas, que não se entendiam mais. Para Lucas, o Pentecostes é o oposto de Babel: aqui, “todos nós os escutamos anunciarem, em nossa própria língua, as maravilhas de Deus” (2,11). Com o episódio de Pentecostes assim formulado, Lucas faz ver que a comunidade cristã é o novo Povo de Deus, o povo da Nova Aliança, cuja Lei é o Espírito Santo. Não há fronteiras para esse povo, e o objetivo comum é viver o projeto de Deus. Esse povo é capaz de se entender e se unir porque fala a língua do Espírito de Jesus. De fato, o Espírito Santo é a memória sempre renovada e atualizada do que Jesus fez e disse (cf. Jo 14,26). Entregando seu Espírito, Deus realiza com a comunidade cristã a nova e definitiva Aliança, na consecução do projeto divino, confiado agora aos que sonham com a humanidade livre de todas as formas de opressão, violência e morte. Não se deve confundir o fenômeno de Pentecostes com o falar línguas estranhas de 1Cor 12-14. Em At 2,1-11, todos os que estão aí à escuta – há gente de 3 continentes – ouvem na própria língua (entendem perfeitamente) falar das maravilhas de Deus. (Vida Pastoral, ano 48, nº 254, Editora Paulus)

Salmo: 103(104), 1ab.24ac.29bc-30 31.34 (R.30)

Enviai o vosso Espírito Senhor e da terra toda a face renovai.
Bendize, ó minha alma, ao Senhor! Ó meu Deus e meu Senhor, como sois grande! Quão numerosas, ó Senhor, são vossas obras! Encheu-se a terra com as vossas criaturas!

Se tirais o seu respiro, elas perecem e voltam para o pó de onde vieram. Enviais o vosso espírito e renascem e da terra toda a face renovais.

Que a glória do Senhor perdure sempre, e alegre-se o Senhor em suas obras! Hoje seja-lhe agradável o meu canto, pois o Senhor é a minha grande alegria.

Segunda Leitura: Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios 12,3b-7.12-13

Irmãos: Ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo. Há diversidade de dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem comum. Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com Cristo. De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós bebemos de um único Espírito. - Palavra do Senhor.

Comentário: O texto de hoje inicia apresentando o critério básico de distinção entre o que procede e o que não procede do Espírito Santo. Esse critério básico é o reconhecimento de Jesus como sendo o único Senhor (v. 3b). Tudo o que não leva a isso não provém do Espírito. É provável que alguém, em Corinto, julgando-se movido pelo Espírito, tenha dito uma grave blasfêmia: “Maldito Jesus!” (cf. 12,3a). Para Paulo, a ação do Espírito leva sempre à confissão de que Jesus é o Senhor. Os coríntios achavam que ter carisma fosse possuir dons extraordinários, como o falar em línguas estranhas e profetizar. Sua visão dos carismas era muito redutiva e personalística. Paulo começa abrindo brechas, afirmando que são distribuídos muitos dons (não alguns somente), mas o Espírito que os distribui é o mesmo: é o Espírito de Jesus (cf. 12,4). Toda ação tem sua origem no Pai; o que os cristãos fazem se baseia na ação de Jesus (cf. vv. 5-6). Note-se aí a formulação trinitária. Em Deus não há divisão, mas harmonia. Tudo colabora na execução do projeto de Deus. O mesmo acontece na comunidade cristã: “A cada um é dado algum sinal da presença do Espírito Santo, para o bem comum” (v. 7). É uma quase definição de carisma. Mas salienta que o movimento do carisma é de dentro para fora, e não o contrário. A seguir, Paulo emprega a imagem do corpo. Ele está pensando no corpo humano, que tem muitos membros, mas ao mesmo tempo pensa no corpo social, a comunidade cristã, que forma um todo com Cristo (v. 12; cf. 6,15: “Vocês não sabem que seus corpos são membros de Cristo?”). Então, pensa Paulo, se em Jesus, com o Pai e o Espírito, não há divisões apesar da diversidade, como pode havê-las na comunidade, que é o corpo de Cristo? De fato, o anúncio do Evangelho em Corinto havia unido povos, categorias e classes sociais incompatíveis até então: judeus e gregos, escravos e livres (v. 13a; cf. Gl 3,28, que é uma das grandes sínteses do Evangelho de Paulo). O Batismo havia elevado todos a um nível jamais atingido antes: todos receberam o mesmo Espírito, de forma a constituir um só corpo social, sem rupturas ou distinções: a comunidade cristã, corpo de Cristo. Assim, todos se alimentam e se inspiram na mesma fonte, que é o Espírito Santo (v. 13b). Têm sentido, portanto, as divisões escandalosas que as comunidades criam em torno de interesses pessoais, posições ou tarefas mais vistosas? Não é um atentado ao corpo de Cristo e ao Espírito de Jesus? Não é um atentado ao projeto de Deus?  (Vida Pastoral, ano 48, nº 254, Editora Paulus)

Sequência

Espírito de Deus, enviai dos céus um raio de luz! Vinde, Pai dos pobres, daí aos corações vossos sete dons. Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde! No labor descanso, na aflição remanso, no calor aragem. Enchei, luz bendita, chama que crepita, o íntimo de nós! Sem luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há nele. Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente. Dobrai o que é duro, guiai no escuro, o frio aquecei. Daí à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete dons. Daí em prêmio ao forte uma santa morte, alegria eterna. Amém.

Evangelho de Jesus Cristo segundo João 20,19-23

Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja convosco”. Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os discípulos se alegraram por verem o Senhor. Novamente, Jesus disse: “A paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos”. - Palavra da Salvação.

Comentários:

O dom do Espírito Santo foi um elemento fundamental na experiência missionária dos primeiros cristãos. Com a ascensão do Senhor, eles se viram às voltas com uma tarefa descomunal: levar a mensagem do Evangelho a todo o mundo. A missão exigiria deles inculturar a mensagem, fazendo o Evangelho ser entendido por pessoas das mais variadas culturas. Deveriam ser capazes de enfrentar dificuldades, perseguições e, até mesmo a morte, por causa do nome de Jesus. Muitos problemas proviriam dos judeus, pois a ruptura com eles seria inevitável, dada a intransigência da liderança judaica para com a comunidade cristã que tomaria um rumo considerado inaceitável. Sem dúvida, não faltariam problemas dentro da própria comunidade, causados por partidarismos, falsas doutrinas e atitudes incompatíveis com a opção pelo Reino. Os discípulos eram demasiado fracos para, por si mesmos, levar a cabo uma empresa tão grande. Jesus, porém, concedeu-lhes o auxílio necessário ao comunicar-lhes o Espírito Santo. Fortalecidos pelo Espírito, eles não se intimidaram, antes, cumpriram, com denodo, o ministério da evangelização. O dom de Pentecostes renova-se, cada dia, na vida da Igreja. O Espírito, ontem como hoje, não permite que os cristãos cruzem os braços diante do mundo a ser evangelizado. (Padre Jaldemir Vitório/Jesuíta)

Eles estavam trancados. Dominados pelo medo. Estavam perturbados pelos acontecimentos recentes. Certamente alimentavam sentimentos de culpa por terem abandonado o Mestre à sua Paixão. Jesus aparece inesperadamente no meio dos discípulos, passando pelas portas fechadas e, soprando sobre eles, diz: “Recebei o Espírito Santo”. Para que “serve” o Espírito Santo? Qual a finalidade desse dom? Ora, serve para dissipar o medo, transformando covardes em mártires. Serve para serenar a agitação e trazer de volta a paz. Serve para diluir a culpa e reavivar a confiança na misericórdia do Senhor. Mas serve – e aqui está a “novidade” deste sopro sobre os Apóstolos! – para pôr nas mãos da Igreja uma notável “faculdade”, até então exclusiva do próprio Deus: o poder de perdoar pecados! (Cf. Mc 2,5-11.) Daí em diante, este poder é confiado aos homens, gerido e ministrado pela Igreja de Jesus. É importante notar que a iniciativa não partiu dos homens: não são os Apóstolos que fazem tal pedido ao Senhor. Daí a impropriedade de quem afirma que a confissão dos pecados é uma “invenção dos padres”. Ao contrário, é um dom maravilhoso de Deus, que incumbe a Igreja de ser o canal da misericórdia divina junto aos pecadores. Desde os primeiros momentos, a Igreja nascente, cheia do Espírito Santo, passa a exercer este ministério. É o que se vê nas palavras de Tiago, em sua Carta: “Confessai os vossos pecados uns aos outros e rezai uns pelos outros, a fim de serdes curados”. (Tg 5,16.) Assim, não tem nenhum fundamento a atitude de quem diz que confessa seus pecados “diretamente a Deus”, quando o próprio Senhor quis a Igreja como mediadora de seu perdão. O “Catecismo” ensina: “Conferindo aos apóstolos seu próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor também lhes dá a autoridade de reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta dimensão eclesial de sua tarefa exprime-se principalmente na solene palavra de Cristo a Simão Pedro: ‘Eu te darei as chaves do Reino dos Céus, e o que ligares na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus’ (Mt 16,19)”. (Nº1444) Há quanto tempo não busco o perdão de meus pecados no Sacramento da Confissão? (Antônio Carlos Santini / Com. Católica Nova Aliança)

Fonte: CNBB - Missal Cotidiano (Paulus)
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Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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