Prefácio Próprio - Ofício da Solenidade
Glória - Sequência - Creio
Cor: Vermelho - Ano Litúrgico “C” Lucas
Solenidade: PENTECOSTES
Antífona: Sabedoria 1,7 O
Espírito do Senhor encheu o universo; ele mantém unidas todas as coisas e
conhece todas as línguas, aleluia!
Oração do Dia: Ó Deus, que pelo mistério da festa de hoje, santificais a vossa
Igreja inteira, em todos os povos e nações, derramai por toda extensão do mundo
os dons do Espírito Santo e realizai agora, no coração dos fieis, as maravilhas
que operastes no início da pregação do evangelho. Por nosso Senhor Jesus
Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!
Primeira Leitura: Atos dos Apóstolos
2,1-11
Quando chegou o dia
de Pentecostes, os discípulos estavam todos reunidos no mesmo lugar. De
repente, veio do céu um barulho como se fosse uma forte ventania, que encheu a
casa onde eles se encontravam. Então apareceram línguas como de fogo que se
repartiram e pousaram sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito
Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito os inspirava.
Moravam em
Jerusalém judeus devotos, de todas as nações do mundo. Quando ouviram o
barulho, juntou-se a multidão, e todos ficaram confusos, pois cada um ouvia os
discípulos falar em sua própria língua. Cheios de espanto e admiração, diziam:
“Esses homens que estão falando não são todos galileus? Como é que nós os escutamos
na nossa própria língua? Nós, que somos partos, medos e elamitas, habitantes da
Mesopotâmia, da Judéia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da
Panfília, do Egito e da parte da Líbia próxima de Cirene, também romanos que
aqui residem; judeus e prosélitos, cretenses e árabes, todos nós os escutamos
anunciarem as maravilhas de Deus em nossa própria língua!” -
Palavra do Senhor.
Comentário: Páscoa e Pentecostes eram festas
agrícolas muito antigas em Israel. Com o passar dos tempos, foram transformadas
em festas religiosas: Páscoa revivia a saída do Egito; Pentecostes recordava o
dia em que Moisés, no monte Sinai, recebeu a Lei, tida como o maior presente de
Deus ao povo. Quando Lucas escreveu os Atos dos Apóstolos (cerca de meio século
após o Pentecostes), a evangelização já havia alcançado todas as nações até
então conhecidas (os confins do mundo; cf. At 1,8). Isso quer dizer que, quando
esse livro foi escrito, todos os povos que Lucas diz estar em Jerusalém no dia
de Pentecostes já tinham recebido o anúncio de Jesus, já tinham sido
evangelizados. Por que, então, Lucas recorda o evento de Pentecostes? Ele quer
mostrar a universalidade do povo de Deus e da evangelização. Na ótica da fé,
tudo isso é obra do Espírito de Jesus. Ao descrever o episódio de Pentecostes,
Lucas se serve de esquemas já presentes no Antigo Testamento. Ele coloca a
vinda do Espírito Santo cinquenta dias após a Páscoa para fazê-la coincidir com
o Pentecostes judaico, no qual o povo judeu celebrava o dom da Aliança no
Sinai, a entrega da Lei (Decálogo), o surgimento de um arranjo social
comprometido com a vida e a justiça. De fato, segundo Ex 19, cinquenta dias
depois que o povo saiu do Egito, Deus fez aliança com ele no monte Sinai,
entregando-lhe, por meio de Moisés, a Lei. O fato foi acompanhado de trovões,
relâmpagos e trombeta tocando. Ora, esse episódio é uma das bases sobre as
quais Lucas constrói a narrativa do Pentecostes: cinquenta dias após a Páscoa,
estando os discípulos reunidos em Jerusalém, houve um barulho como o rebentar
de forte ventania (At 2,1-2). Com isso, Lucas afirma que, em Jerusalém,
acontece a Nova Aliança; surge o Novo Povo de Deus; é dada a Nova Lei: o
Espírito Santo. Lucas se inspira em outro texto do Antigo Testamento: Números
11,10-30, onde Deus repartiu seu Espírito sobre Moisés e os setenta anciãos,
para que pudessem organizar o povo. E Moisés exprimiu o desejo de que todo o
povo recebesse o Espírito de Javé (Nm 11,29). Esse substrato serviu de molde
para Lucas, a fim de mostrar que, finalmente, o Espírito de Deus foi derramado
sobre todos no dia de Pentecostes. No início do evangelho, o Espírito tomara
conta de Jesus (cf. Lc 4,18). No início dos Atos, o mesmo Espírito toma posse
de todas as pessoas. Finalmente, Lucas se serve de Gênesis 11,1-9, o episódio
da torre de Babel, onde Deus confundiu a ambição das pessoas, que não se
entendiam mais. Para Lucas, o Pentecostes é o oposto de Babel: aqui, “todos nós
os escutamos anunciarem, em nossa própria língua, as maravilhas de Deus”
(2,11). Com o episódio de Pentecostes assim formulado, Lucas faz ver que a
comunidade cristã é o novo Povo de Deus, o povo da Nova Aliança, cuja Lei é o
Espírito Santo. Não há fronteiras para esse povo, e o objetivo comum é viver o
projeto de Deus. Esse povo é capaz de se entender e se unir porque fala a
língua do Espírito de Jesus. De fato, o Espírito Santo é a memória sempre
renovada e atualizada do que Jesus fez e disse (cf. Jo 14,26). Entregando seu
Espírito, Deus realiza com a comunidade cristã a nova e definitiva Aliança, na
consecução do projeto divino, confiado agora aos que sonham com a humanidade
livre de todas as formas de opressão, violência e morte. Não se deve confundir
o fenômeno de Pentecostes com o falar línguas estranhas de 1Cor 12-14. Em At
2,1-11, todos os que estão aí à escuta – há gente de 3 continentes – ouvem na
própria língua (entendem perfeitamente) falar das maravilhas de Deus. (Vida
Pastoral, ano 48, nº 254, Editora Paulus)
Salmo: 103(104),
1ab.24ac.29bc-30 31.34 (R.30)
Enviai o vosso
Espírito Senhor e da terra toda a face renovai.
Bendize, ó minha alma, ao Senhor! Ó meu
Deus e meu Senhor, como sois grande! Quão numerosas, ó Senhor, são vossas
obras! Encheu-se a terra com as vossas criaturas!
Se tirais o seu respiro, elas perecem e
voltam para o pó de onde vieram. Enviais o vosso espírito e renascem e da terra
toda a face renovais.
Que a glória do Senhor perdure sempre, e
alegre-se o Senhor em suas obras! Hoje seja-lhe agradável o meu canto, pois o
Senhor é a minha grande alegria.
Segunda Leitura: Primeira Carta de
São Paulo aos Coríntios 12,3b-7.12-13
Irmãos: Ninguém
pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser no Espírito Santo. Há diversidade de
dons, mas um mesmo é o Espírito. Há diversidade de ministérios, mas um mesmo é
o Senhor. Há diferentes atividades, mas um mesmo Deus que realiza todas as
coisas em todos. A cada um é dada a manifestação do Espírito em vista do bem
comum. Como o corpo é um, embora tenha muitos membros, e como todos os membros
do corpo, embora sejam muitos, formam um só corpo, assim também acontece com
Cristo. De fato, todos nós, judeus ou gregos, escravos ou livres, fomos
batizados num único Espírito, para formarmos um único corpo, e todos nós
bebemos de um único Espírito. - Palavra do Senhor.
Comentário: O texto de hoje inicia
apresentando o critério básico de distinção entre o que procede e o que não
procede do Espírito Santo. Esse critério básico é o reconhecimento de Jesus
como sendo o único Senhor (v. 3b). Tudo o que não leva a isso não provém do
Espírito. É provável que alguém, em Corinto, julgando-se movido pelo Espírito,
tenha dito uma grave blasfêmia: “Maldito Jesus!” (cf. 12,3a). Para Paulo, a
ação do Espírito leva sempre à confissão de que Jesus é o Senhor. Os coríntios
achavam que ter carisma fosse possuir dons extraordinários, como o falar em
línguas estranhas e profetizar. Sua visão dos carismas era muito redutiva e
personalística. Paulo começa abrindo brechas, afirmando que são distribuídos
muitos dons (não alguns somente), mas o Espírito que os distribui é o mesmo: é
o Espírito de Jesus (cf. 12,4). Toda ação tem sua origem no Pai; o que os
cristãos fazem se baseia na ação de Jesus (cf. vv. 5-6). Note-se aí a
formulação trinitária. Em Deus não há divisão, mas harmonia. Tudo colabora na
execução do projeto de Deus. O mesmo acontece na comunidade cristã: “A cada um
é dado algum sinal da presença do Espírito Santo, para o bem comum” (v. 7). É
uma quase definição de carisma. Mas salienta que o movimento do carisma é de
dentro para fora, e não o contrário. A seguir, Paulo emprega a imagem do corpo.
Ele está pensando no corpo humano, que tem muitos membros, mas ao mesmo tempo
pensa no corpo social, a comunidade cristã, que forma um todo com Cristo (v.
12; cf. 6,15: “Vocês não sabem que seus corpos são membros de Cristo?”). Então,
pensa Paulo, se em Jesus, com o Pai e o Espírito, não há divisões apesar da
diversidade, como pode havê-las na comunidade, que é o corpo de Cristo? De
fato, o anúncio do Evangelho em Corinto havia unido povos, categorias e classes
sociais incompatíveis até então: judeus e gregos, escravos e livres (v. 13a;
cf. Gl 3,28, que é uma das grandes sínteses do Evangelho de Paulo). O Batismo
havia elevado todos a um nível jamais atingido antes: todos receberam o mesmo
Espírito, de forma a constituir um só corpo social, sem rupturas ou distinções:
a comunidade cristã, corpo de Cristo. Assim, todos se alimentam e se inspiram
na mesma fonte, que é o Espírito Santo (v. 13b). Têm sentido, portanto, as
divisões escandalosas que as comunidades criam em torno de interesses pessoais,
posições ou tarefas mais vistosas? Não é um atentado ao corpo de Cristo e ao
Espírito de Jesus? Não é um atentado ao projeto de Deus? (Vida Pastoral, ano 48, nº 254, Editora
Paulus)
Sequência
Espírito de Deus,
enviai dos céus um raio de luz! Vinde, Pai dos pobres, daí aos corações vossos
sete dons. Consolo que acalma, hóspede da alma, doce alívio, vinde! No labor
descanso, na aflição remanso, no calor aragem. Enchei, luz bendita, chama que
crepita, o íntimo de nós! Sem luz que acode, nada o homem pode, nenhum bem há
nele. Ao sujo lavai, ao seco regai, curai o doente. Dobrai o que é duro, guiai
no escuro, o frio aquecei. Daí à vossa Igreja, que espera e deseja, vossos sete
dons. Daí em prêmio ao forte uma santa morte, alegria eterna. Amém.
Evangelho de Jesus
Cristo segundo João 20,19-23
Ao anoitecer daquele dia, o primeiro da semana, estando
fechadas, por medo dos judeus, as portas do lugar onde os discípulos se
encontravam, Jesus entrou e, pondo-se no meio deles, disse: “A paz esteja
convosco”. Depois dessas palavras, mostrou-lhes as mãos e o lado. Então os
discípulos se alegraram por verem o Senhor. Novamente, Jesus disse: “A
paz esteja convosco. Como o Pai me enviou, também eu vos envio”. E,
depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: “Recebei o Espírito Santo.
A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os
perdoardes, eles lhes serão retidos”. - Palavra da Salvação.
Comentários:
O dom do
Espírito Santo foi um elemento fundamental na experiência missionária dos
primeiros cristãos. Com a ascensão do Senhor, eles se viram às voltas com uma
tarefa descomunal: levar a mensagem do Evangelho a todo o mundo. A missão
exigiria deles inculturar a mensagem, fazendo o Evangelho ser entendido por
pessoas das mais variadas culturas. Deveriam ser capazes de enfrentar
dificuldades, perseguições e, até mesmo a morte, por causa do nome de Jesus.
Muitos problemas proviriam dos judeus, pois a ruptura com eles seria
inevitável, dada a intransigência da liderança judaica para com a comunidade
cristã que tomaria um rumo considerado inaceitável. Sem dúvida, não faltariam
problemas dentro da própria comunidade, causados por partidarismos, falsas
doutrinas e atitudes incompatíveis com a opção pelo Reino. Os discípulos eram
demasiado fracos para, por si mesmos, levar a cabo uma empresa tão grande.
Jesus, porém, concedeu-lhes o auxílio necessário ao comunicar-lhes o Espírito
Santo. Fortalecidos pelo Espírito, eles não se intimidaram, antes, cumpriram,
com denodo, o ministério da evangelização. O dom de Pentecostes renova-se, cada
dia, na vida da Igreja. O Espírito, ontem como hoje, não permite que os
cristãos cruzem os braços diante do mundo a ser evangelizado. (Padre Jaldemir Vitório/Jesuíta)
Eles estavam trancados. Dominados
pelo medo. Estavam perturbados pelos acontecimentos recentes. Certamente
alimentavam sentimentos de culpa por terem abandonado o Mestre à sua Paixão.
Jesus aparece inesperadamente no meio dos discípulos, passando pelas portas
fechadas e, soprando sobre eles, diz: “Recebei o Espírito Santo”. Para que “serve” o Espírito Santo? Qual a finalidade desse dom? Ora,
serve para dissipar o medo, transformando covardes em mártires. Serve para
serenar a agitação e trazer de volta a paz. Serve para diluir a culpa e
reavivar a confiança na misericórdia do Senhor. Mas serve – e aqui está a “novidade” deste sopro sobre os Apóstolos! –
para pôr nas mãos da Igreja uma notável “faculdade”, até então exclusiva do
próprio Deus: o poder de perdoar pecados! (Cf. Mc 2,5-11.) Daí em diante, este
poder é confiado aos homens, gerido e ministrado pela Igreja de Jesus. É importante notar que a iniciativa não
partiu dos homens: não são os Apóstolos que fazem tal pedido ao Senhor. Daí a
impropriedade de quem afirma que a confissão dos pecados é uma “invenção dos
padres”. Ao contrário, é um dom maravilhoso de Deus, que incumbe a Igreja de
ser o canal da misericórdia divina junto aos pecadores. Desde os primeiros momentos, a Igreja
nascente, cheia do Espírito Santo, passa a exercer este ministério. É o que se
vê nas palavras de Tiago, em sua Carta: “Confessai os vossos pecados uns aos
outros e rezai uns pelos outros, a fim de serdes curados”. (Tg 5,16.) Assim,
não tem nenhum fundamento a atitude de quem diz que confessa seus pecados
“diretamente a Deus”, quando o próprio Senhor quis a Igreja como mediadora de
seu perdão. O “Catecismo” ensina:
“Conferindo aos apóstolos seu próprio poder de perdoar os pecados, o Senhor
também lhes dá a autoridade de reconciliar os pecadores com a Igreja. Esta
dimensão eclesial de sua tarefa exprime-se principalmente na solene palavra de
Cristo a Simão Pedro: ‘Eu te darei as chaves do Reino dos Céus, e o que ligares
na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus’
(Mt 16,19)”. (Nº1444) Há quanto tempo não busco o perdão de meus pecados no Sacramento da
Confissão? (Antônio
Carlos Santini / Com. Católica Nova Aliança)
Fonte: CNBB - Missal Cotidiano (Paulus)
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