7ª Semana da Páscoa - 3ª Semana do Saltério
Prefácio da Ascensão I ou II - Ofício da Solenidade
Glória e Creio
Cor: Branco - Ano Litúrgico “B” - São Marcos
Solenidade: ASCENSÃO
DO SENHOR
Antífona: Atos
1,11 Homens da Galiléia, porque estais admirados, olhando para o céu?
Este Jesus há de voltar do mesmo modo que o vistes subir, aleluia!
Oração do Dia: Ó Deus todo-poderoso, a Ascensão do vosso Filho já é nossa
vitória. Fazei-nos exultar de alegria e fervorosa ação de graças, pois, membros
de seu corpo, somos chamados na esperança a participar da sua glória. Por nosso
Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!
Primeira Leitura: Atos dos Apóstolos
1,1-11
No meu primeiro livro, ó Teófilo, já tratei de tudo o que
Jesus fez e ensinou, desde o começo, até o dia em que foi levado para o céu,
depois de ter dado instruções, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que tinha
escolhido. Foi a eles que Jesus se mostrou vivo, depois de sua paixão, com
numerosas provas. Durante quarenta dias, apareceu-lhes falando do Reino de
Deus. Durante uma refeição, deu-lhes esta ordem: “Não vos afasteis de
Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai, da qual vós me ouvistes
falar: ‘João batizou com água; vós, porém, sereis batizados com o Espírito
Santo, dentro de poucos dias’”. Então os que estavam reunidos perguntaram a
Jesus: “Senhor, é agora que vais restaurar o Reino em Israel?” Jesus respondeu:
“Não vos cabe saber os tempos e os momentos que o Pai determinou com a sua
própria autoridade. Mas recebereis o poder do Espírito Santo que descerá sobre
vós, para serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e na
Samaria, e até os confins da terra”.
Depois de dizer isso, Jesus foi levado ao céu, à vista
deles. Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não podiam mais vê-lo. Os
apóstolos continuavam olhando para o céu, enquanto Jesus subia. Apareceram
então dois homens vestidos de branco, que lhes disseram: “Homens da Galiléia,
por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus, que vos foi
levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes partir para o céu”. -
Palavra do Senhor.
Comentário:
O nosso texto começa com um
prólogo (vers. 1-2) que relaciona os “Atos” com o 3º Evangelho – quer na
referência ao mesmo Teófilo a quem o evangelho era dedicado, quer na alusão a
Jesus, aos seus ensinamentos e à sua ação no mundo (tema central do 3º
Evangelho). Neste prólogo são, também, apresentados os protagonistas do livro –
o Espírito Santo e os apóstolos, ambos vinculados com Jesus. Depois da apresentação inicial, vem o tema da despedida de Jesus (vers. 3-8). O
autor começa por fazer referência aos “quarenta dias” que mediaram entre a
ressurreição e a ascensão, durante os quais Jesus falou aos discípulos “a
respeito do Reino de Deus” (o que parece estar em contradição com o Evangelho,
onde a ressurreição e a ascensão são apresentadas no próprio dia da Páscoa –
cfr. Lc 24). O número quarenta é, certamente, um número simbólico: é o número
que define o tempo necessário para que um discípulo possa aprender e repetir as
lições do mestre. Aqui define, portanto, o tempo simbólico de iniciação ao
ensinamento do Ressuscitado. As palavras de despedida de Jesus (vers. 4-8)
sublinham dois aspectos: a vinda do Espírito e o testemunho que os discípulos
vão ser chamados a dar “até aos confins do mundo”. Temos aqui resumida a
experiência missionária da comunidade de Lucas: o Espírito irá derramar-se
sobre a comunidade crente e dará a força para testemunhar Jesus em todo o
mundo, desde Jerusalém a Roma. Na realidade, trata-se do programa que Lucas vai
apresentar ao longo do livro, posto na boca de Jesus ressuscitado. O autor quer
mostrar com a sua obra que o testemunho e a pregação da Igreja estão
entroncados no próprio Jesus e são impulsionados pelo Espírito. O último tema é
o da ascensão (vers. 9-11).
Evidentemente, esta passagem necessita de ser interpretada para que, através da
roupagem dos símbolos, a mensagem apareça com toda a claridade. Temos, em
primeiro lugar, a elevação de Jesus ao
céu (vers. 9a). Não estamos a falar de uma pessoa que, literalmente,
descola da terra e começa a elevar-se; estamos a falar de um sentido teológico
(não é o “repórter”, mas sim o “teólogo” a falar): a ascensão é uma forma de
expressar simbolicamente que a exaltação de Jesus é total e atinge dimensões
supraterrenas; é a forma literária de descrever o culminar de uma vida vivida
para Deus, que agora reentra na glória da comunhão com o Pai. Temos, depois, a nuvem (vers. 9b) que subtrai Jesus
aos olhos dos discípulos. Pairando a meio caminho entre o céu e a terra, a nuvem é, no Antigo Testamento, um
símbolo privilegiado para exprimir a presença do divino (cfr. Ex 13,21.22;
14,19.24; 24,15b-18; 40,34-38). Ao mesmo tempo, a nuvem, simultaneamente, esconde e manifesta: sugere o mistério
do Deus escondido e presente, cujo rosto o Povo não pode ver, mas cuja presença
adivinha nos acidentes da caminhada. Céu e terra, presença e ausência, sombra e
luz, divino e humano, são dimensões aqui sugeridas a propósito de Cristo
ressuscitado, elevado à glória do Pai, mas que continua a caminhar com os
discípulos. Temos, ainda, os discípulos
a olhar para o céu (vers. 10 a). Significa a expectativa dessa comunidade
que espera ansiosamente a segunda vinda de Cristo, a fim de levar ao seu termo
o projeto de libertação do homem e do mundo. Temos, finalmente, os dois homens vestidos de branco (vers.
10b). O branco sugere o mundo de Deus – o que indica que o seu testemunho vem
de Deus. Eles convidam os discípulos a continuar no mundo, animados pelo
Espírito, a obra libertadora de Jesus; agora, é a comunidade dos discípulos que
tem de continuar, na história, a obra de Jesus, embora com a esperança posta na
segunda e definitiva vinda do Senhor. O sentido fundamental da ascensão não é
que fiquemos a admirar a elevação de Jesus; mas é convidar-nos a seguir o
caminho de Jesus, olhando para o futuro e entregando-nos à realização do seu
projeto de salvação no meio do mundo. (capuchinhosprsc.org.br)
Salmo: 46,2-3.6-7.8-9
(R.6)
Por entre aclamações
Deus se elevou, o Senhor subiu ao toque da trombeta.
Povos todos do
universo, batei palmas, Gritai a Deus aclamações de alegria! Porque sublime é o
Senhor, o Deus Altíssimo, o soberano que domina toda a terra.
Por entre aclamações
Deus se elevou o Senhor subiu ao toque da trombeta. Salmodiai ao nosso Deus ao
som da harpa, salmodiai ao som da harpa ao nosso Rei!
Porque Deus é o
grande Rei de toda a terra, Ao som da harpa acompanhai os seus louvores! Deus
reina sobre todas as nações. Está sentado no seu trono glorioso.
Segunda Leitura: Carta de São Paulo
aos Efésios 1,17-23
Irmãos: O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai, a quem
pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça
verdadeiramente conhecer. Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que
saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá, qual a riqueza da glória
que está na vossa herança com os santos, e que imenso poder ele exerceu em
favor de nós que cremos, de acordo com a sua ação e força onipotente.
Ele manifestou sua força em Cristo, quando o ressuscitou dos
mortos e o fez sentar-se à sua direita nos céus, em acima de toda a autoridade,
poder, potência, soberania ou qualquer título que se possa nomear, não somente
neste mundo, mas ainda no mundo futuro. Sim, ele pôs tudo sob seus pés e fez
dele, que está acima de tudo, a Cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a
plenitude daquele que possui a plenitude universal. - Palavra do Senhor.
Comentário:
À ação de graças, Paulo une uma
fervorosa oração a Deus para que os destinatários da carta conheçam “a
esperança a que foram chamados” (vers. 18). A prova de que o Pai tem poder para
realizar essa “esperança” (isto é, conferir aos crentes a vida eterna como
herança) é o que ele fez com Jesus Cristo: ressuscitou-o e sentou-o à sua
direita (vers. 20), exaltou-o e deu-lhe soberania sobre todos os poderes
angélicos (Paulo está preocupado com a perigosa tendência de alguns cristãos em
dar uma importância exagerada aos anjos, colocando-os, até, acima de Cristo –
cfr. Col 1,6). Essa soberania estende-se, inclusive, à Igreja – o “corpo” do
qual Cristo é a “cabeça”. O mais significativo deste texto é, precisamente,
este último desenvolvimento. A ideia de que a comunidade cristã é um “corpo” –
o “corpo de Cristo” – formado por muitos membros, já havia aparecido nas
grandes cartas, acentuando-se sobretudo a relação dos vários membros do “corpo”
entre si (cfr. 1 Cor 6,12-20;10,16-17;12,12-27; Rom 12,3-8); mas nas cartas do
cativeiro, Paulo retoma a noção de “corpo de Cristo” para refletir, sobretudo,
sobre a relação que existe entre a comunidade e Cristo. Neste texto, em
concreto, há dois conceitos muito significativos para definir o quadro da
relação entre Cristo e a Igreja: o de “cabeça” e o de “plenitude” (em grego,
“pleroma”). Dizer que Cristo é a “cabeça” da Igreja significa, antes de mais,
que os dois formam uma comunidade indissolúvel e que há entre os dois uma
comunhão total de vida e de destino; significa, também, que Cristo é o centro à
volta do qual o “corpo” se articula, a partir do qual e em direção ao qual o
“corpo” cresce, se orienta e constrói, a origem e o fim desse “corpo”;
significa, ainda, que a Igreja/“corpo” está submetida à obediência a Cristo/“cabeça”:
só de Cristo a Igreja depende e só a ele deve obediência. Dizer que a Igreja é
a “plenitude” (“pleroma”) de Cristo significa dizer que nela reside a
“plenitude”, a “totalidade” de Cristo. Ela é o receptáculo, a habitação onde
Cristo se torna presente no mundo; é através desse “corpo” onde reside, que
Cristo continua todos os dias a realizar o seu projeto de salvação em favor dos
homens. Presente nesse “corpo”, Cristo enche o mundo e atrai a si o universo
inteiro, até que o próprio Cristo “seja tudo em todos” (vers. 23). (capuchinhosprsc.org.br)
Evangelho de Jesus
Cristo segundo Lucas 24,46-53
Naquele tempo, disse Jesus a seus discípulos: “Assim está
escrito: O Cristo sofrerá e ressuscitará dos mortos ao terceiro dia e no seu
nome serão anunciados a conversão e o perdão dos pecados a todas as nações,
começando por Jerusalém. Vós sereis testemunhas de tudo
isso. Eu enviarei sobre vós aquele que meu Pai prometeu. Por isso, permanecei
na cidade, até que sejais revestidos da força do alto”. Então Jesus levou-os
para fora, até perto de Betânia. Ali ergueu as mãos e abençoou-os. Enquanto os
abençoava, afastou-se deles e foi levado para o céu. Eles o adoraram. Em
seguida voltaram para Jerusalém, com grande alegria. E estavam sempre no
Templo, bendizendo a Deus. - Palavra da Salvação.
Comentários:
Este
é o Evangelho da Ascensão de Jesus que, cumprida a sua missão terrestre,
regressa à direita do Pai, de onde – como rezamos no Símbolo dos Apóstolos – há
de vir no Grande Dia, para julgar os vivos e os mortos. Estamos diante de mais
um “degrau” no processo de glorificação do Verbo que se fez carne para ser
nosso Salvador. Quando Jesus nasceu, em Belém de Judá, os anjos do céu lhe
cantavam “Glória”. Em seu Batismo, no Jordão, a voz do Pai o identificou como o
Filho bem-amado, cena que se repetiria, intensificada, na Transfiguração do
Tabor. Aqui e ali, seja dominando a tempestade ou mudando a água em vinho, sua
glória voltaria a se manifestar (cf. Jo 1,11). Sua Ressurreição, com a derrota
definitiva da morte, elevaria ainda mais a sua imagem diante dos homens. Agora,
passada a humilhação e a dor de sua Paixão, elevando-se nos céus até
desaparecer em uma nuvem, Jesus se mostra no esplendor de sua divindade. Sua
Segunda Vinda será o clímax desse mesmo processo. Diz São Lucas (24, 52) que os
discípulos foram tomados de grande alegria, pois a gloriosa manifestação de
poder divino que a Ascensão de Jesus lhes oferecia ultrapassava em muito a
tristeza da separação. Esta alegria é visível no Ícone da Ascensão, que tenho
diante dos olhos enquanto escrevo esta reflexão. Bem no alto, em um medalhão,
cercado por anjos, vê-se o Cristo já elevado ao Pai. Na metade inferior do
ícone, os apóstolos estão reunidos em ciranda, em torno da Mãe de Deus. Ela tem
os pés firmes no chão, como o eixo sólido da Igreja que gira a seu redor,
enquanto espera pelo Espírito Santo prometido. Dois anjos de branco, ao lado de
Maria, acentuam sua silhueta, revestida do manto cor de barro dos filhos de
Adão. Todos os apóstolos mostram ao menos um dos pés erguidos, como em passo de
dança. Esta “pericorese” [dança circular] da Igreja imita a mesma “pericorese”
trinitária, imagem do movimento de amor entre as Três Pessoas divinas. Confirmada
e transfigurada pela Ascensão do Senhor, a Igreja – com Maria em seu centro –
dança de alegria! Será preciso que os anjos venham despertá-los de sua
embriaguez espiritual, lembrando que o Senhor voltará, mas, enquanto isso, há
tarefas a cumprir aqui em baixo... Daqui a poucos dias, no “salão de cima”,
serão revestidos do Espírito Santo. E sua alegria será completa. (Antônio
Carlos Santini / Com Católica Nova Aliança)
A
conclusão da caminhada terrena de Jesus corresponde ao início da missão dos
apóstolos. A subida aos céus, de forma alguma colocou um ponto final na missão
do Mestre. Pelo contrário, esta missão seria levada adiante por aqueles que o
acolheriam na fé, e se colocariam a serviço do Reino. O convite para a
conversão e o anúncio do perdão dos pecados tiveram início em Jerusalém. Este
mistério divino de salvação está indissociavelmente ligado à pessoa e à ação de
Jesus. Ele conquistou-nos a salvação por sua morte e ressurreição, vividas na
mais absoluta fidelidade ao Pai. Por este caminho, a dinâmica do pecado, tendo
a morte como consequência, foi desarticulada. E, ao ser humano foi franqueado
um caminho de libertação. Toda a vida e o ministério de Jesus estiveram a
serviço da libertação, nas suas diferentes versões: libertação do pecado e do
egoísmo, dos preconceitos sociais, da morte, da doença, da fome, da opressão do
espírito maligno. Assim, instaurou-se, no coração da humanidade, o grande dom
oferecido por Deus à humanidade, vitimada pelo pecado. Agora, compete aos
discípulos levar adiante esta missão, até os confins da Terra. Nem um só ser
humano deveria ser privado da graça salvadora, comunicada por meio de Jesus.
Portanto, a ascensão não deve dar margem para saudosismos, mas levar à ação. (Padre Jaldemir Vitório/Jesuíta)
Fonte: CNBB - Missal Cotidiano (Paulus)
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