A fé,
no Reino divino, é um dom de Deus. É recebida pelo batismo, como uma semente.
Mas tem que ser regada, assumida com maturidade e equilíbrio.
Muitas de suas manifestações revelam desequilíbrios. Até o
fato de a pessoa querer ser diferente das outras, na comunidade cristã, onde
ela (a fé) deve ser colocada em prática, “cheira” atitude estranha, que não
passa de falta de equilíbrio.
Identifica-se claramente, nos últimos tempos, uma forte
contradição relacionada com a fé: de um lado, o indiferentismo em relação à
vida cristã; de outro, as manifestações de religiosidade sensacionalista, com
pouco, ou nada, de comprometimento com as realidades concretas da vida da
sociedade. Não adianta dizer ter fé se não tem obras, não há esforço para
construir uma vida de liberdade.
Quem teve oportunidade de uma boa formação sobre a fé, tem
mais facilidade para enfrentar os caminhos difíceis na vida. Seus atos devem
ser autênticos, justos e honestos. Sua base de ação está mais fundamentada na
Palavra de Deus. Fica indignado diante da corrupção, da violência e da falta de
paz. Mas também acredita no caminho do diálogo, do respeito e da misericórdia.
Faz parte do compromisso de fé a alegria da missão, mas
também os sinais de contradição e de rejeição. Na cultura brasileira do
momento, falar de justiça e de honestidade é correr o risco e o desafio da
exclusão. Parece bastante sintomático ser desonesto, principalmente nos desvios
das coisas públicas. Todo brasileiro sente, “na pele”, as consequências dos
“Lava-jatos da vida”.
Nos momentos de provação, por causa da missão profética,
Deus está com as pessoas que professam a fé nele. O medo não pode roubar da
pessoa de fé, sua motivação profética, e nem ter medo de quem mata o corpo,
pois Deus cuida até dos pássaros do campo, quanto mais da vida de seus filhos
na fé (cf. Mt 10,28-29). Jesus disse estar com seu povo até o fim dos tempos
(cf. Mt 28,20).
Quem luta por Deus, fazendo o bem pelas pessoas e pela
natureza, pode contar com ele em todos os momentos. Ele não está presente em
quem “trambica”, usa de esperteza no exercício do poder e do ter, porque não é
uma atitude de quem vivencia a fé. A vida será julgada pelo que a pessoa fez ou
deixou de fazer. Ela terá que arcar com as consequências dos maus atos.
Dom
Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba
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