Introdução ao espírito da
Celebração
Deus, Pai amorosíssimo, quer ver todos os Seus filhos
contentes, felizes. Esse desejo é também o mais comum a todos nós. Como pois
explicar que haja quem nem sempre experimente essa tão desejada maneira de
viver? O Senhor, através da Sua Palavra, vai indicar-nos os caminhos pelos
quais devemos livremente optar, para que, tal desejo, em todos nós, se possa
concretizar.
Oração coleta: Deus de bondade infinita, que, pela
humilhação do vosso Filho, levantastes o mundo decaído, dai aos vossos fiéis
uma santa alegria, para que, livres da escravidão do pecado, possam chegar à
felicidade eterna. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que é Deus
convosco na unidade do Espírito Santo.
Primeira Leitura
Profecia de Zacarias 9,9-10
Zacarias, convida o Povo de Israel a alegrar-se, apesar da
triste situação em que se encontra. Ele já vê chegar o seu libertador. Contra o
pensar geral, é Alguém que vem desprovido de poder «humildemente montado num
jumentinho».
A leitura é tirada da 2.ª parte do livro de Zacarias, onde
se fala do triunfo definitivo de Deus e do seu reino universal. Este texto foi
escolhido para hoje em função do Evangelho, em que Jesus se apresenta como
«manso e humilde de coração». É um texto messiânico, que Mateus apresenta como
cumprido em Jesus (cf. Mt 21,4-5).
9 «Filha de Sião, ou filha de Jerusalém» são hebraísmos para
designar os habitantes de Jerusalém. O Messias será um «rei justo e
triunfante», mas «humilde» e pacífico rei universal (v. 10): não aparecerá
montado num veloz corcel de guerra, mas num manso «jumento».
Segunda Leitura
Carta de São Paulo aos Romanos 8,9.11-13
Jesus morreu, mas ressuscitou. Ele tinha em Si o Espírito de
Deus, que é a vida em plenitude. Dessa vida também participamos pelo baptismo,
com o qual morremos para as obras da carne. A vida divina em nós levar-nos-á a
também viver eternamente.
Este pequenino trecho é tirado de Rom 8, que constitui o
ponto culminante da carta e a sua mais bela profunda síntese. No centro deste
genial capítulo está a presença e a ação do Espírito Santo, a quem se atribui a
vida nova em Cristo. Esta é uma «vida sob o domínio do Espírito», a antítese
perfeita da «vida sob o domínio da carne» (v. 9). Aqui a carne não é uma
categoria platónica para designar a parte material do ser humano, nem é a
«simples natureza» humana com a conotação de fraqueza e precariedade (sentido
frequente no AT e noutros textos paulinos, por ex., em Rom 3,20; 1 Cor 1,29;
Gal 3,16); trata-se antes da natureza humana ferida pelo pecado e infectada
pela concupiscência, o homem enquanto dominado pelos apetites e paixões
desordenadas.
11-13 A vida nova «por meio do Espírito» de Cristo é
radicalmente inconciliável com a vida segundo a carne, pois o Apóstolo adverte:
«se viverdes de acordo com a carne, haveis de morrer» (v. 13). As obras da
carne são as obras pecaminosas, ditadas pelos apetites desordenados em geral,
não apenas pelo apetite sexual, como na nossa linguagem atual. O sentido
positivo da mortificação cristã está aqui bem explícito: «haveis de viver».
Evangelho
Segundo Mateus 11,25-30
A passagem evangélica, por sua vez, nos traz um convite
consolador de Jesus: “Vinde a mim todos vós que estais cansados e fatigados sob
o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” (v. 28). É também um convite a ir ao encontro de Jesus
e a aceitar os seus ensinamentos. Jesus promete dar a todos o descanso, mas sob
uma condição: “Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e
humilde de coração, e vós encontrareis descanso” (v. 29).
Entre os fariseus do tempo de Jesus, a imagem do “jugo” era
aplicada à Lei de Deus, a suprema norma de vida (cf. Eclo 6,24-30). Entende-se como jugo, uma estrutura ou barra
de madeira que é colocada sobre um ou dois animais que estejam puxando uma
carga pesada. O jugo equilibra a carga, tornando-a mais fácil de ser levada.
Além de seu significado literal, o conceito de jugo também aparece em muitas
escrituras como metáfora de escravidão ou servidão (cf. Jr 28,2).
Para os fariseus, por exemplo, a Lei não era um “jugo”
pesado, mas um “jugo” glorioso, que devia ser carregado com alegria. Na realidade, tratava-se de um “jugo”
pesadíssimo. A impossibilidade de cumprir, no dia a dia, os 613 mandamentos da
Lei escrita e oral, criava consciências pesadas e atormentadas. Os crentes,
incapazes de estar em regra com a Lei, sentiam-se condenados e malditos,
afastados de Deus e indignos da salvação. A Lei aprisionava em lugar de
libertar e afastava os homens de Deus ao invés de os conduzir para a comunhão
com Ele.
Os “sábios e inteligentes” estavam convencidos de que o
conhecimento da Lei lhes dava o conhecimento de Deus. A Lei era o canal de
união com Deus; por isso, apresentavam-se como detentores da verdade,
representantes legítimos de Deus, capazes de interpretar a vontade e os planos
divinos.
Mas o “jugo” de Cristo é a lei do amor, é o seu mandamento,
deixado por ele aos seus discípulos (cf. Jo 13,34; 15,12). O verdadeiro remédio
para as feridas da humanidade, quer materiais, como a fome e as injustiças,
quer psicológicas e morais, causadas por um falso bem-estar, é uma regra de
vida baseada no amor fraterno, que tem a sua fonte no amor de Deus.
No evangelho deste domingo Jesus faz um convite aos humildes
para que aceitem o seu “jugo”, que é o descanso e a tranquilidade. Como de fato, mansidão e humildade são duas
virtudes postas em prática por Jesus, ao longo de seu ministério. Jesus também quis nos ensinar este
caminho. Ele se fez manso e humilde para
poder dizer-nos: Aprendei de mim (v. 29).
Por isto, só quem se entrega a Deus, pelo ato de total
abandono que é o amor, pode ser assumido pela graça que nos dá a real
participação no reino de Deus, que sempre se inicia e se planifica no
amor. Por isso também, seu jugo é leve,
porque nos liberta do farto da morte e nos faz participantes da vida de
Deus. Só o divino amor, que opera em nós
a fé, pode nos fazer andar até ele: “Vinde a mim, todos vós” (v. 28).
Um dos mais belos frutos da humildade é esse que está no
evangelho deste domingo: o ter os olhos abertos para entender as verdades de
Deus, enquanto que os soberbos e os arrogantes e aqueles que presumem ser
sábios, ficam alheios diante destes ensinamentos: “Eu te louvo, ó Pai, Senhor
do céu e da terra, porque ocultastes estas coisas aos sábios e aos doutores e
as revelaste aos pequeninos” (Mt 11,25).
Jesus repete também a tantos inteligentes e sábios honestos
que existem no mundo de hoje seu convite: “Vinde a mim, todos vós, que estais
cansados e fatigados sob o peso dos vossos fardos, e eu vos darei descanso” (v.
28). E que este convite possa chegar também
a cada um de nós.
Peçamos ao Senhor que ele nos conceda também um coração puro
e simples, desprendido e disponível para o outro. Um coração capaz de olhar com amor
misericordioso para todos, sem julgar ninguém. Um coração puro e simples, capaz
de compreender que tudo é dom gratuito de Deus e tudo deve dar
gratuitamente. Um coração aberto ao
perdão, que não seja invejoso e não guarde rancor e tudo desculpa (cf. 1Cor
13,4-7).
Que a Virgem Mãe nos ajude a ter um coração puro e simples e
nos faça aprender de Jesus a verdadeira humildade, a carregar com decisão o seu
jugo leve, para experimentar a paz interior e tornarmos capazes de confortar
aqueles que percorrem com provações o caminho da vida. Assim seja.
D. Anselmo Chagas de Paiva, OSB
Sugestão para reflexão
Jesus, Mestre divino, ensina-nos, com o
seu exemplo, os caminhos da felicidade.
Não foi por acaso – para Deus não há acasos – que Jesus
nasceu numa pobre manjedoura, pertenceu a uma família humilde, quis passar por
ser «o filho do carpinteiro», viveu em Nazaré – cidade por todos desprezada – ,
não tinha onde reclinar a cabeça, entrou em Jerusalém montado num pobre
jumentinho, (1ª Leitura da Missa de hoje), lava os pés aos Apóstolos, é
cuspido, esbofeteado, flagelado, coroado de espinhos e ridicularizado pelas
ruas de Jerusalém, é pregado na cruz e morre no meio de dois ladrões. Não podia
ter feito mais para nos revelar quanto nos ama, como é monstruoso o pecado e
ensinar a virtude fundamental da humildade. Com a vivência tão profunda desta
virtude, o Senhor provou também quão errado foi o caminho seguido pelos nossos
primeiros pais e que hoje continua a iludir tantos homens – o orgulho. A
cegueira estonteante que este vício provoca é de tal forma dramática, que é
causa de todas as tragédias humanas, arrastando homens pelos caminhos errados
da vida, provocadores de tantas lágrimas, sofrimento e atraso social.
Como só com a virtude da humildade existe capacidade para
captar as verdades eternas e as grandes lições que Jesus nos dá, Ele proclamou
esta linda oração que o Evangelho da Missa de hoje nos transmite: «Eu Te
bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondestes estas verdades aos
sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos».
Fonte: presbiteros.com.br
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