A palavra mártir vem do grego martys, martyros, que
significa testemunha. O mártir é uma testemunha qualificada que chega ao
derramamento do próprio sangue.
O Papa Bento XIV assim se exprime: “O martírio é a morte
voluntariamente aceita por causa da fé cristã ou por causa do exercício de
outra virtude relacionada com a fé”.
O Catecismo da Igreja Católica § 2473 retoma o conceito: “O
martírio é o supremo testemunho prestado à verdade da fé; designa um testemunho
que vai até a morte”.
O Concilio do Vaticano II desenvolve tal noção: “Visto que
Jesus, Filho de Deus, manifestou Sua caridade entregando Sua vida por nós,
ninguém possui maior amor que aquele que entrega sua vida por Ele e seus irmãos
(cf. 1Jo 3, 16; Jo 15, 13). Por isso, desde o início alguns cristãos foram
chamados – e alguns sempre serão chamados – para dar o supremo testemunho de
seu amor diante de todos os homens, mas de modo especial perante os
perseguidores. O martírio, por conseguinte – pelo qual o discípulo se assemelha
ao Mestre, que aceita livremente a morte pela salvação do mundo, e se conforma
a Ele na efusão do sangue – é estimado pela Igreja com exímio dom e suprema
prova de caridade. Se a poucos é dado, todos, porém, devem estar prontos a
confessar Cristo perante os homens, segui-lo no caminho da cruz entre
perseguições, que nunca faltam à Igreja” (Lumen Gentium, nº 42).
A propósito deve-se notar o seguinte:
O martírio é uma graça que tem sua iniciativa em Deus. Não
compete ao cristão procurar o martírio provocando os adversários da fé. A
Igreja sempre condenou esse comportamento, pois seria presunçoso (quem pode ter
a certeza que irá suportar corajosamente os tormentos do martírio?); além do
quê, seria provocar o pecado do próximo ou dos algozes.
Para que haja martírio propriamente dito, requer-se que o
cristão morra livremente, ou seja, aceite conscientemente o risco de morrer por
causa da sua fé. A aceitação da morte pode ser explícita, como no caso em que o
perseguidor deixa a escolha entre renegar a fé (ou uma virtude relacionada com
a fé) e a morte. A aceitação livre pode ser implícita quando a pessoa sabe que
o seu compromisso cristão pode levá-la até a morte e, não obstante, é fiel a
esse compromisso.
Para que a Igreja declare oficialmente que alguém é mártir
da fé, são efetuadas pesquisas a respeito:
·
A verdadeira causa da morte: pode ser que um
cristão seja condenado à morte não por ser cristão, mas por estar envolvido em
alguma campanha política ou de outra ordem;
·
A livre aceitação da morte por parte da vítima;
·
Graças ou milagres obtidos por intercessão do(a)
servo(a) de Deus.
O processo é iniciado na diocese à qual pertencia a vítima
ou na qual ela foi levada à morte. Continua e termina em Roma, na Congregação
para as Causas dos Santos.
O martírio é algo tão antigo quanto a pregação da Palavra de
Deus. Já ocorreu na história dos Profetas do Antigo Testamento. No século II
a.C. os irmãos macabeus sofreram a morte cruenta por causa da sua fé (cf. 2 Mc
7,1-42), assim como o escriba Eleazar (cf. 2MC 6,18-31).
O martírio teve seu ponto alto em Jesus Cristo. Santo
Estevão é o primeiro mártir do Cristianismo após Jesus Cristo (cf. At 7,
55-60). No fim do século I, o Apocalipse fala de “imensa multidão”, que ninguém
pode numerar, daqueles que lavaram e alvejaram suas túnicas no sangue do
Cordeiro” (cf. Ap 7, 9.14). Em síntese, São Paulo afirma que “todos aqueles que
quiserem viver com piedade em Cristo Jesus, serão perseguidos” (2Tm 3, 12).
Dom Estevão Bettencourt - Revista
“Pergunte e Responderemos” - Nº 456, Ano 2000, p.194
Fonte: Liturgia das Horas
Foto retirada da internet
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