Reconheço o meu pecado, diz Davi. Se eu o reconheço,
perdoa-me, Senhor! Mesmo procurando viver bem, de modo algum tenhamos a presunção
de ser sem pecado. Que demos valor à vida em que se pede perdão. Os homens sem
esperança, quanto menos atentam para os próprios pecados, com tanto maior
curiosidade espreitam os alheios. Procuram não o que corrigir, mas o que
morder. Não podendo escusar-se, estão prontos a acusar. Não foi este o exemplo
de rogar e de satisfazer a Deus que Davi nos deu, dizendo: Porque reconheço meu
crime e meu pecado está sempre diante de mim. Davi não estava atento aos
pecados alheios. Caía em si, não se desculpava, mas em si mesmo penetrava e
descia cada vez mais profundamente. Não se poupava, e por isso podia
confiadamente pedir para si o perdão.
Queres reconciliar-te com Deus? Repara como procedes
contigo, para que Deus te seja propício. Presta atenção ao salmo, onde lemos:
Porque se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente; não te causam prazer
os holocaustos. Então ficarás sem sacrifício para oferecer? Nada oferecerás?
Com nenhuma oblação tornarás Deus propício? Que disseste? Se quisesses um sacrifício,
eu o faria certamente; não te causam prazer os holocaustos. Continua, escuta e
dize: Sacrifício para Deus é o espírito contrito; o coração contrito e
humilhado Deus não o despreza. Rejeitado aquilo que oferecias, encontraste o
que oferecer. Como os antepassados, oferecias vítimas de animais, ditos
sacrifícios: Se quisesses um sacrifício, eu o faria certamente. Não queres mais
este gênero de sacrifícios, no entanto, procuras um sacrifício.
Não te causam prazer os holocaustos. Se não tens prazer com
os holocaustos, ficarás sem sacrifício? De modo algum. Sacrifício para Deus é o
espírito contrito; o coração contrito e humilhado Deus não o despreza. Tens o
que oferecer. Não examines o rebanho, não aprestes navios e não atravesses as
mais longínquas regiões em busca de perfumes. Procura em teu coração aquilo de
que Deus gosta. O coração deve ser esmagado. Por que temes que o esmagado
pereça? Lê-se aqui: Cria em mim, ó Deus, um coração puro. Para que seja criado
o coração puro, esmague-se o impuro.
Sintamos aborrecimento por nós mesmos quando pecamos, porque
os pecados aborrecem a Deus. Já que não estamos sem pecado, ao menos nisto
sejamos semelhantes a Deus: o que lhe desagrada, desagrade também a nós. Em
parte tu te unes à vontade de Deus, por te desagradar em ti aquilo mesmo que
odeia aquele que te fez.
Santo
Agostinho (354/430)
Bispo de Hipona -
Doutor da Igreja
Fonte: Liturgia das Horas
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Ricardo Feitosa e Marta Lúcia
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